Ex-tesoureiro do PT vive em São Paulo e é sócio de sua irmã em empresa online em Goiânia, onde aparece duas vezes por mês
Escoltado pelo mesmo personagem da época do mensalão, o motorista Luiz Claudio Martins, o ex-tesoureiro Delúbio Soares aparece de 15 em 15 dias para trabalhar no escritório que mantém com a irmã, Delma Soares, na Ipê Galeria, em Goiânia (GO). O negócio, a Geral Imovéis, é uma espécie de “imobiliária online” e foi fundada em 2007, um ano após Delúbio ser expulso do partido, acusado de ser o pivô do maior escândalo do governo Lula, o mensalão. Na semana em que o ex-tesoureiro do PT tenta voltar aos quadros do partido, o iG foi ao escritório de Delúbio, mas ele viajara para Brasília, onde está prestes a retornar ao partido.
A secretária, Fátima, disse que Delúbio aparece uma vez a cada duas semanas. A reportagem questionou quem, então, cuidava do negócio. Fátima respondeu: “A Delma, irmã dele, que deve estar chegando”. Passados 10 minutos, Delma, que também é professora de Geografia da rede púbica, entrou na sala 58 do segundo andar da galeria, sorridente. Assim que a reportagem se identificou, Delma fechou o semblante, mas conduziu a reportagem até a sua mesa, na sala 59.
Delma não fala sobre o caso envolvendo Delúbio, nem sobre a época em que estourou o escândalo do mensalão, mas falou ao iG sobre a empresa da qual é sócia com o irmão. “Somos em quatro irmãos. Não falo deles, porque falaria da vida pessoal do Delúbio”, responde.
A ideia de abrir o negócio partiu dos dois, segundo contou Delma ao iG. Mas quem deu a ideia primeiro? “Um dia, surgiu”, diz ela, quase monossilábica. Além de Delma e Delúbio, a empresa tem mais dois funcionários: a secretária, Fátima, e um consultor online, que monitora os empreendimentos vendidos pelo site.
Assim que decidiram abrir a empresa, começou a busca pelo escritório. Decidiram alugar as salas 58 e 59 da galeria Ipê, na avenida 85, no bairro Setor Marista. O valor do aluguel na galeria, que tem 86 salas, é baixo. “Menos de dois mil reais”, diz.
No site, a empresa propõe ao cliente que encontre o “imóvel dos sonhos” e expõe lançamentos imobiliários para venda e outros para aluguel. Delúbio detém 95% da Geral e a irmã fica com 5%, “o que eu podia investir na época”, explica. O lucro vem de anúncios de imóveis que estão para alugar e vender. E o faturamento da empresa? “Não vou te contar isso”, diz. A reportagem a questiona, então, se o lucro paga as contas. “Não, mas a empresa ainda está começando, né? Não anuncio em classificados porque é muito caro ainda”, afirma. Na porta da sala, não há identificação alguma, mas Delma explica que a placa da Geral Imóveis caiu recentemente e chama Fátima para que a traga. Na sala, apenas a mesa de Delma e uma outra de reunião com cinco cadeiras. O ex-tesoureiro não tem mesa.
Delúbio mora em São Paulo, com a mulher Monica Valente, que é membro do diretório nacional, que deve apreciar o pedido de refiliação apresentado pelo ex-tesoureiro ao partido. “Mas ele viaja muito, está sempre viajando”, conta Delma. No andar de baixo da galeria, a dona da lanchonete, que se identifica como Erica, confirma que vê
Delúbio uma vez a cada 15 dias. Sempre carregando uma “mochilinha”, ele cumprimenta a todos e sobe as escadas acompanhado por Luiz, seu motorista. “O Luiz está sempre com ele, sabe quem é? Aquele motorista dele, parece um guarda-roupa de tão grande. Todo mundo na galeria já sabe: quando o Luiz está por aqui, Delúbio está fora da cidade. Quando ele não está, foi fazer algum serviço para ele em Brasília”, conta Erica, que paga R$ 350 pelo espaço.
Na hora do almoço, Delúbio não pede prato na lanchonete de Erica, como os demais inquilinos da galeria, incluindo os funcionários da Geral Imóveis. “Você acha que ele vai comer aqui? Nem água ele pede. Quando quer, pede para o Luiz ir comprar uma água fora daqui para ele, super cara, custa mais de dois reais. O Luiz disse que ele gosta desta água porque é puríssima”, diz a dona da lanchonete, que conta com a ajuda de suas três irmãs para atender ao movimento.
“O Luiz é muito amigo dele. Eu sou muito amigo dele. Ele dirige para ele quando Delúbio está aqui, mas não sei se é funcionário dele”, disse ao iG o secretário de governo da Prefeitura de Goiâna, Osmar Magalhães.
Atividade política
Mesmo sem partido, o ex-tesoureiro participa de atividades políticas com frequência na cidade e esteve recentemente na programação de atividades da CUT (Central Unica dos Trabalhadores). “Ele leva uma vida normal”, afirmou Magalhães. Se conseguir a refiliação, Delúbio deve trocar a vida de corretor imobiliário pela de candidato a vereador no ano que vem, em Goiânia. “Eu não estou sabendo disso não. Vi nos jornais”, disse Delma ao iG.
A reportagem procurou Delúbio por dois meses para gravar entrevista, mas o ex-tesoureiro recusou os pedidos.
Fonte: Andréia Sadi/iG
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