Diante
do forte crescimento do crédito imobiliário nos últimos anos, o mercado
brasileiro já se prepara para incrementar os instrumentos para
composição do funding, que hoje é sustentando principalmente por recursos
originados na poupança. Nos próximos anos, porém, existe uma
preocupação com o esgotamento desses recursos, conforme apontaram na
tarde desta quarta-feira (19) executivos do setor, reunidos em
conferência realizada pela Sociedade Latino-Americana de Mercado
Imobiliário (Lares, na sigla em inglês).
De
acordo com estimativa de José Roberto Machado, diretor de crédito
imobiliário do Santander, o esgotamento do funding deve ocorrer em maio
de 2016, considerando um cenário com crescimento anual dos
financiamentos em torno de 20%, e das cadernetas de poupança em torno de
10%. Pelas regras do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), 65% do dinheiro depositado nas cadernetas de poupança deve ser destinado ao financiamento de moradias no País.
"É
certo que haverá um esgotamento e não podemos ficar olhando sem fazer
nada", afirmou Machado. O executivo ressaltou que é necessário ampliar a
utilização dos demais instrumentos de captação disponíveis no mercado,
já que a poupança tem uma taxa de remuneração fixa, não sendo possível
alterá-la para atrair mais investidores. "Isso é um limitador
importante", observou.
O
diretor de crédito imobiliário do Banco do Brasil, Gueitiro Matsuo
Genso, afirmou que a instituição buscará diversificar seus instrumentos
para compor o funding, com utilização de recursos provenientes do FGTS,
operações de securitização, comercialização de Letras de Crédito
Imobiliário (LCI), além da tradicional poupança. "Não existe nenhuma
solução única e milagrosa para resolver a equação", afirmou.
Até
2016, 45% do funding do BB deve ter origem em recursos do FGTS. Segundo
Gueitiro, isso se dará por meio de linhas de financiamento do banco
destinada a imóveis econômicos (de R$ 100 mil) para famílias de baixa
renda, além de maior atuação na concessão de crédito para compra de
imóveis dentro do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal.
Outros 30% devem ter origem nas LCI, que começarão a ser comercializadas
a partir deste mês, segundo o executivo.
PIB
Gueitiro
estimou que, até 2020, o crédito imobiliário deve seguir crescendo no
mercado brasileiro, de modo que sua participação no Produto Interno
Bruto (PIB) passe de 5% para 16%, alcançando o montante de R$ 1,5
trilhão. "Isso é mais do que a soma da carteira dos quatro principais
players do mercado hoje", apontou. O executivo acredita que o mercado
terá muita competição daqui para frente, e que o BB planeja alcançar o
segundo lugar em participação do mercado, atrás apenas da Caixa
Econômica Federal. (CEF).
O
presidente da Abecip, Octavio de Lazari Junior, observou que o ritmo de
crescimento do crédito desacelerou em 2012, puxado principalmente pela
menor tomada de crédito pelas empresas de construção, que reduziram o
lançamento de novos empreendimentos residenciais no mercado.
Lazari
mencionou que, entre janeiro e julho de 2012, os financiamentos para
pessoas jurídicas recuaram 28% em relação ao mesmo período de 2011.
"Neste momento, a redução mostra o grau de maturidade e comprometimento
das incorporadoras. Elas viram que erraram a mão em alguma momento e é
hora de fazer um freio de arrumação", afirmou, referindo-se aos
problemas de atrasos de obras e estouros de custos enfrentados
recentemente por essas companhias.
Pessoa física
Por
outro lado, os financiamentos para pessoas físicas continuam em alta,
com crescimento de 23% no mesmo período. Segundo Lazari, a população
continua procurando crédito, uma vez que o déficit habitacional do País
ainda é grande, em torno de 5,6 milhões de moradias. Além disso, há bons
níveis de emprego e ganhos reais de renda, contribuindo para sustentar a
demanda, avalia. "É tudo que um país precisa para crescer no credito
imobiliário. E vai continuar assim no ano que vem".
Apesar
da desaceleração nos concessões de financiamento, Lazari afirmou que o
ritmo de crescimento se mantém saudável. "Estamos tranquilos. Não vamos
crescer 30% neste ano, como previsto inicialmente, mas vamos buscar os
15%", apontou.
Fonte: Agência Estado
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