Especialistas atribuem aumento à estabilidade econômica e à facilidade de
obter créditos imobiliários. Foto: TASS
O Brasil e a Rússia estão entre os cinco países do
mundo com os maiores crescimentos dos preços de habitação no segundo
trimestre de 2012, segundo o Índice Global de Preços de Habitação
divulgado pelo centro de pesquisa Knight Frank no início de setembro.
Especialistas russos atribuem subida à recuperação econômica pós-crise,
ao aumento dos empréstimos imobiliários e à intensificação dos
investimentos de pequenos e médios empresários no setor habitacional.
O
Brasil lidera o ranking apresentado pelo centro de pesquisa Knight Frank com
elevação de preço dos imóveis na faixa de 18,4%, duas vezes maior do que os índices
registrados anteriormente. A Rússia, com 9,9%, ocupa o quarto lugar desse grupo
de cinco países, que inclui ainda a Áustria (11%), Turquia (10,5%) e Colômbia
(7,7%).
Fatores
como estabilidade econômica, controle da inflação, aumento de renda, queda do
desemprego e baixa das taxas de juros facilitaram o acesso ao crédito
imobiliário no Brasil e, consequentemente, aumentaram a demanda. Somado a tudo
isso, o supervalorização dos imóveis registrada no país decorreu da atualização
dos preços em comparação aos valores praticados no mercado internacional.
“No
caso da Rússia, os preços dos imóveis estão crescendo pelo segundo
trimestre
consecutivo. Ainda no quarto trimestre de 2011, com uma baixa de 9,3%, a
Rússia
ocupava a 50ª posição entre os 52 países medidos pelo Índice”, explica
Elena Iurieva,
diretora regional do departamento de imóveis residenciais de alto padrão
da Knight Frank para a Rússia e países da CEI (Comunidade
de Estados Independentes).
Em
abril deste ano, o preço de um metro quadrado nos imóveis recém-construídos nas
cidades menores da Rússia atingiu cerca de US$ 1.500. Em Moscou, o mesmo metro
quadrado custava mais de US$ 5 mil.
Iurieva
atribui a valorização do mercado imobiliário da Rússia ao fato de a maior parte
dos russos considerar a aquisição de imóveis como um investimento seguro a
longo prazo.
Grande
parcela dos russos acolheram as previsões sobre o eventual colapso da zona do
euro e de sua moeda única, divulgadas no início deste ano, como estímulo à procura
de meios seguros para resguardar suas finanças.
Com
o baixo rendimento de poupança (nem todos os bancos oferecem taxas de juros
superiores às de inflação) e baixa confiança nos instrumentos financeiros, imóveis
e carros têm sido considerados os ativos mais confiáveis na Rússia. O primeiro
pode ser alugado a qualquer momento e render a seu proprietário,
pelo menos, mil dólares ao mês. Já o segundo
pode ser facilmente transformado em ganha-pão caso seu dono perca o emprego.
Crédito fácil
Os
bancos também contribuíram para a alta dos preços no mercado imobiliário russo,
por meio da ampla liberação de empréstimos para a compra de imóveis e carros.
De
acordo com a agência de crédito imobiliário da Rússia, o volume de empréstimos
aumentou 1,6 vezes e atingiu 516,9 bilhões de rublos (cerca de US $ 17, 2
bilhões) nos primeiros sete meses do ano.
Embora
os créditos imobiliários sejam usados principalmente para a aquisição de imóveis
no mercado secundário (imóveis usados), observa-se que, nos últimos dois anos, a
tendência de aumento desses contratos foi também reproduzida no mercado
primário.
Segundo
o presidente do banco Delta Credit, Serguêi Ózerov, o percentual das transações
no mercado primário foi de 24% no ano passado, com previsão de subida para 25% neste
ano.
“Ao
contrário do Ocidente, nosso país não teve uma bolha imobiliária. Além disso, o
crescimento bastante rápido dos preços dos recursos energéticos no mercado
mundial contribuiu para a recuperação da econômica da população”, disse, em
entrevista à Gazeta Russa, o analista da agência Investcafe, Iúri Kochetkov.
Segundo
ele, a atual subida dos preços se deve, em grande parte, à inflação natural e
ao crescimento da renda da população, e não à agitação do mercado nem à injeção
maciça de investimentos.
“O
crescimento especulativo dos preços começará de novo só com o aumento
significativo dos empréstimos imobiliários e, mais importante, com a redução
das taxas de juro anual desses créditos para 5% a 7 %”, explicou Kochetkov.
Futuro incerto
Ao
que tudo indica, os preços dos imóveis continuarão crescendo, pois o governo
russo tem a intenção de reduzir o custo do crédito
imobiliário. O valor de dois ou três mil dólares por mês por um apartamento de
dois cômodos é atualmente inacessível a muitas famílias jovens.
O
primeiro-ministro russo Dmítri Medvedev confirmou recentemente que o governo
iria tentar reduzir as taxas de juro dos créditos imobiliários para 5 ou 6%. No
entanto, não está claro quando isso será aplicado na prática.
A
taxa atual de refinanciamento do Banco Central é de 8%, e o custo desses
créditos segue raramente abaixo dos 9,5% a 11 %, mesmo nos programas de
empréstimos mais favoráveis.
O
problema está também no fato de a oferta de novas habitações ficar sempre atrás
da demanda. No primeiro trimestre de 2012, foram entregues quase 10 milhões de metros quadrados de unidades imobiliárias,
apenas 6% a mais do que no mesmo período de 2011. Os especialistas consideram
pouco para um país com mais de 140 milhões de habitantes.
O
crescimento da produção na Rússia ainda é impedido pelos altos custos dos
projetos de construção. Além dos
materiais e dos terrenos serem extremamente caros, é preciso acrescentar ao
orçamento os subornos de toda a espécie pagos pelas construtoras.
O
diretor do Instituto de Gerenciamento Tributário e Economia dos Imóveis da
Escola Superior de Economia, Vadim Zaskó, afirma que a corrupção aumenta em 10% o preço final de uma unidade
habitacional.
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