sábado, 5 de março de 2011

O RISCO DA BOLHA IMOBILIÁRIA NO BRASIL


Em dois anos, o estoque de crédito imobiliário dobrou no Brasil: de R$ 92 bi para R$ 189 bi. Em 12 meses, o preço dos imóveis subiu 40% no Rio; 24%, em São Paulo; 17%, em Belo Horizonte. O consumo de cimento cresceu 15% em 2010, com alta de 19% no Nordeste. A Tigre, tubos e conexões, pretende dobrar de tamanho até 2014; a Votorantim Cimentos terá 22 novas fábricas entre 2007 e 2013.

A venda de material de construção, segundo a Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção), deve crescer 9% este ano e acumular 60% de alta até 2016. Cerca de 69% dos empresários do setor estão otimistas e 72% pretendem investir nos próximos 12 meses. A indústria opera com 87% da capacidade. O consumo de tinta e verniz subiu 9% em 2010, e desde 2005 o faturamento cresceu 60%, de R$ 2,2 bi, em 2005, para R$ 3,5 bi, em 2009.

O déficit habitacional no país calculado pela FGV chega a 6,2 milhões de moradias: 3,6 milhões de famílias vivendo em construções precárias e 2,6 milhões sendo obrigadas a dividir o mesmo teto. Espera-se ainda uma demanda adicional de 17 milhões de jovens que deixarão a casa dos pais até 2020. Considerado o mercado de crédito mais arriscado da economia, pelos altos volumes e longos prazos, o crédito habitacional e imobiliário teve aumento de 530% de janeiro de 2004 a dezembro de 2010, saindo de R$ 30 bilhões para R$ 189 bi. Somente nos últimos dois anos, o volume dobrou: em dezembro de 2009, era R$ 92 bilhões. Em dois anos, o crédito total da economia saiu de R$ 1,2 trilhão para R$ 1,7 trilhão, alta de 41%. O crédito habitacional era 7,5% do total. Agora é 10,68%.

Os números não deixam dúvidas de que o setor imobiliário saiu da estagnação que o perseguiu por cerca de duas décadas, até meados de 2006. Os economistas afirmam que é pequeno o risco de bolhas, mas os consumidores se assustam com a disparada dos preços dos imóveis, principalmente nos grandes centros. A Fipe, em parceria com a Zap imóveis, coletou alta de 40% no Rio de Janeiro; 24%, em São Paulo; e 17%, em Belo Horizonte, nos últimos 12 meses.

A economista Monica de Bolle, da Galanto consultoria, avalia que o setor continuará aquecido, mas acha inevitável uma desaceleração.

— A indústria da construção está bem, o crédito foi destravado, que é vital para o setor, e houve alta muito forte. Mas é difícil imaginar que esse ritmo permaneça, até porque o Banco Central está adotando medidas macroprudenciais. Em 2007, o crescimento desse crédito foi de 20%; em 2010, foi de 40%. Dobrou. Não dá para permanecer crescendo assim — disse Monica.

Um freio foi acionado pelo governo, com o corte de R$ 5 bilhões sofrido pelo programa Minha Casa, Minha Vida para este ano. O crescimento forte tem esbarrado em gargalos e provocado inflação. O INCC (Índice Nacional da Construção Civil) subiu mais que o IPCA: 7,43%, contra 5,99%. Os empresários apontam a mão de obra como principal problema. O custo com trabalhadores disparou 9,73% em 12 meses.

— A falta de mão de obra é o principal gargalo. Ele acontece na edificação e é claramente quantitativo e qualitativo. Para resolver isso, estamos implantando um sistema nacional de certificação e capacitação profissional para a construção civil, para criar um padrão de qualificação e garantir um currículo mínimo para 13 tipos de profissionais — afirmou o presidente da Abramat, Melvin Fox.

As vendas da Tigre subiram 17% em 2010. O vicepresidente da empresa, Paulo Nascentes, diz que o grupo vai aumentar em 25% os investimentos este ano, para dobrar o tamanho da companhia até 2014:

— Todo o setor tem projetos de investimentos. As empresas estão com dinheiro em caixa, há programas do governo, obras de saneamento. O Brasil tem um bônus demográfico, como o que houve nos EUA nos anos 60, quando a população jovem, com idade entre 17 e 45 anos, passa a ser maioria e busca moradia. Esse ciclo vai durar até 2020. Há uma grande sustentação do mercado e ainda regiões com déficits maiores, como o Nordeste.

O consumo de cimento recuou 5,2% de 2000 a 2005. De lá para cá, acumula alta de 58%. Em 2007, o consumo subiu quase 10%. Em 2008, a alta foi 14,5% e até mesmo em 2009, ano de crise, ele se manteve estável. Segundo José Otávio Carvalho, presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento, a alta em 2010 chegou a 15%, e a expectativa para este ano é de mais 8%. Mas admite que haverá um ciclo de ajuste.

— Não temos condições de continuar crescendo a taxas chinesas. Há gargalos na atividade, de logística, infraestrutura. Cerca de 94% do cimento são transportados pela via rodoviária. As ferrovias são muito pouco utilizadas porque a malha é limitada e voltada para siderurgia e mineração. A mão de obra também é gargalo forte. A área habitacional pode ser afetada pela disposição de financiamento, que chegou a um nível tal que não conseguimos prever crescimento no mesmo patamar nos próximos anos. Temos cenário de desaceleração do crédito; inflação em alta; desaceleração do PIB.

A análise é a mesma no sindicato das Indústrias de Tintas e Vernizes do Estado de São Paulo (Sitivesp):

— Acho que o mercado imobiliário vai precisar desacelerar nos próximos anos porque não é possível crescer nessa taxa por muito tempo. Os imóveis já se valorizaram muito. Inclusive o próprio governo tem dificuldade de financiar porque os preços sobem — disse Airton Sicoln, assessor da diretoria da Sitivesp.

Depois das bolhas imobiliárias que derrubaram as economias de Estados Unidos, Irlanda e Espanha, é mais do que saudável crescer a um ritmo mais próximo do PIB. Até porque a percepção de qualquer pessoa é de que o ritmo está forte demais; ambiente propício à formação das temidas bolhas.

Fonte: Enviado por Míriam Leitão e Alvaro Gribel - 05.03.2011 15h00m. Coluna no GLOBO

3 comentários:

  1. Até muito recentemente o discurso era de que a valorização dos imoveis se manteria nos próximos anos pois a demanda era alta e a renda do brasileiro estava aumentando. Agora,o discurso corrente é de que o crescimento do setor se dará a um ritmo mais lento e "saudável," com uma tendencia de estabilização do valores do imoveis (nas alturas).

    Interessante como o discurso corrente dos especialistas muda tão rapidamente.

    Outro aspecto "interessante" é que os empresários, segudo a notícia vinculada, parecem querer dar a impressão de que parte significativa do aumento ser responsabilidade da elevação do custo da mão-de-obra "os empresários apontam a mão de obra como principal problema. O custo com trabalhadores disparou 9,73% em 12 meses." Ora, o custo de produção do metro quadardo, já incluindo material e mão-de-obra é de aproximadamentede 830,00 em SP, sendo que cerca de 55% deste valor é o custo relativo a mão-de-obra. No entando o valor medio do m² dos imoveis negociados pelo mercado em SP é de 4145,00! Ou seja, os elevados valores se devem muito mais a ganancia empresarial do que aos trabalhadores que ainda ganham mal (não trabalho na cosntrução cívil é bom que se diga.)

    Outro aspecto a ser cosiderado, é que esse será provavelmente o ultimo ano que haverá credito farto para o financiamento imobiliário, a poupança e o Fgts, principais fundos para o financiamento da casa propria, já começam a se esgotar e ai os preços terão que baixar pois o salário do brasileiro não dará conta de adquirir imoveis com o atual valor. Será interessante ver o discurso de estabilidade dos preços mudarem novamente.
    Se existe uma bolha imobiliária (e existem indicios para crer nisso) vamos descobrir quando isso ocorrer.

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  2. E sem levar em consideração também que, em São Paulo, a valorização dos aluguéis acompanhou os salto nos preços dos imóveis. Quanto mais gente adquire casa própria menos valorizado deveria ser o aluguel. Ou não?

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  3. Já estamos numa situação insustentável....dá a impressão que 90% da população é classe rica...comprando imóveis com preços nas alturas...mas isso...sabemos que não é a realidade...logo..logo...alguém vai quebrar...

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