Camargo Corrêa e Cyrela levam mais de quatro anos para tirar projeto do papel e enfrentam disputa com a família Matarazzo.
As árvores e os portões continuam lá, ainda que detonados pelo tempo. No lugar onde viveu a família Matarazzo, dona do que um dia foi o grupo empresarial mais próspero do Pais, funciona apenas um estacionamento - que, diga-se de passagem, mal cobre os custos do milionário IPTU. No começo do boom do mercado imobiliário, os herdeiros do Conde Francisco Matarazzo Júnior venderam, por R$ 125 milhões, o último grande terreno da Avenida Paulista.
O objetivo das novas donas, Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário (CCDI) e Cyrela Commercial Properties (CCP), é erguer ali um shopping center e uma torre de escritórios. Passados pouco mais de quatro anos, o que era para ser uma grande oportunidade de negocio converteu-se num imbróglio que parece não ter fim. Na última quinta-feira, o Diário Oficial de São Paulo publicou finalmente o alvará de execução do projeto, dando sinal verde para o começo das obras. A CCDI e a CCP tiveram dificuldade em tirar o empreendimento do papel por causa da localização e das características do projeto. Mas os problemas ainda não acabaram. O terreno virou alvo de uma disputa jurídica entre os Matarazzo e as novas proprietárias. Pelo acordo de venda, os Matarazzo receberiam 40% do pagamento no ato e os outros 60% em metros quadrados de área construída, como é praxe no setor.
O prazo para entrega do empreendimento era de três anos, com a tolerância de mais um, segundo Carlos Francisco de Magalhães, advogado que representa uma ala da família e o espólio do Conde, morto em 1977. "No fim do terceiro ano, mandamos uma notificação, pedindo uma justificativa para o atraso. Eles argumentaram que não podiam cumprir os prazos por causa da Prefeitura", conta Magalhães.
Perdas e danos:
No começo deste ano, com o vencimento da prorrogação, entraram com uma ação exigindo perdas e danos, multa diária de R$ 50 mil até o fim das obras e imediata entrega - o que, nesse caso, é impossível de ocorrer. Procuradas, tanto CCP quanto CCDI não quiseram comentar o caso. O valor correspondente às perdas e danos só será apurado após a decisão da Justiça, mas o advogado calcula que não seria inferior à soma dos aluguéis que a família deixou de receber entre dezembro de 2009 (quando venceram os três anos) até a data de entrega da obra.
Segundo informações do último relatório financeiro da CCP, o aluguel do metro quadrado da Torre Matarazzo é estimado entre R$ 110 e R$ 130. Cada um dos cinco herdeiros (ou sucessores) recebeu como permuta o equivalente a 2,4 mil metros quadrados de área construída. De acordo com esse mesmo relatório, a previsão de entrega dos empreendimentos é no segundo trimestre de 2014. Com um alerta no pé de página: "Os empreendimentos em desenvolvimento (caso desse) estão sujeitos à revisão de área, data de entrega e de investimento devido a possíveis mudança de projeto".
Na semana passada, durante apresentação de resultados de 2010 da CCDI aos investidores, um analista estrangeiro perguntou sobre os empreendimentos da Avenida Paulista. A resposta foi sucinta: "Teremos notícias em breve".
Emperrado:
Quando o terreno foi vendido, em dezembro de 2007, a família já tentava aprovar na Prefeitura a planta de um prédio de 65 andares, que abrigaria um hotel e uma torre de escritórios. Os novos donos, no entanto, mudaram o projeto para um shopping, que recebe um fluxo maior de gente que um hotel. Antes do sinal verde na última quinta-feira, foram feitas diversas tentativas de aprovação, sobretudo na Prefeitura do Verde e do Meio Ambiente. O temor era que, com a construção, a região perdesse áreas de absorção de chuva e boa parte das árvores do local.
Segundo a Prefeitura de São Paulo, os donos terão de plantar 106 mudas no terreno e no Parque Trianon como forma de compensação ambiental. O impacto no trânsito da região é outro problema. Como contrapartida, estão previstos o alargamento de trechos das ruas São Carlos do Pinhal e Pamplona e a implantação e revitalização da sinalização, de acordo com informações da Prefeitura.
O projeto prevê um torre de 22 mil metros quadrados de área locável e um shopping de quase 18 mil metros quadrados de área locável. O Shopping Matarazzo ficará entre dois outros centros de compra em funcionamento no corredor da Paulista - o Bristol, na esquina com a Rua Augusta, e o Pátio Paulista, na Treze de Maio. Esse último, para efeito de comparação, tem 27,3 mil metros quadrados de área locável e recebe 748 mil pessoas por mês.
Acordo:
A família, ao mesmo tempo, tenta chegar a um acordo com as incorporadoras. A maioria dos herdeiros, até pela idade avançada, tem pressa em receber o dinheiro. Um deles, conhecido como "Chico 3", morreu em junho do ano passado. Antes disso, teria vendido sua parte por estimados R$ 17 milhões, abaixo do preço de mercado. Um mês depois, a Cyrela Commercial Properties anunciou a compra de 1,2 mil metros quadrados de área construída na Torre Matarazzo. Seria a parte da viúva de Ermelino Matarazzo, a francesa Hélène Blanche Matarazzo. Os filhos de Maria Pia e Filomena, as únicas herdeiras vivas do Conde, querem negociar o metro quadrado por um valor acima de R$ 18 mil. Representante do espólio da família, Maria Pia doou tudo para seus quatro filhos. Eneida, viúva de Eduardo Matarazzo, e os dois filhos também querem negociar seus 2,4 mil metros quadrados no empreendimento. Seu contrato previa condições melhores que o dos irmãos.
O terreno comprado há quatro anos pelas incorporadoras por R$ 125 milhões hoje é avaliado no mercado em cerca de R$ 200 milhões.
Fonte: Patrícia Cançado - O Estado de S.Paulo
Torre Matarazzo
ARQUITETURA: AFLALO & GASPERINI ARQUITETOS
ÁREA DO TERRENO: 12.947 m²
•Desenvolvido e incorporado em parceria: CCP e CCDI
•Em processo de Certificação LEED
•O empreendimento localizado em um dos últimos grandes terrenos existentes na Avenida Paulista, uma das principais avenidas da cidade de São Paulo, será composto por uma torre de edifício corporativo e um shopping center.
•O projeto assinado pelo renomado escritório de arquitetura Aflalo & Gasperini, contará com avançada tecnologia para que o edifício se torne um marco na Avenida Paulista.
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