quinta-feira, 31 de março de 2011

A OPERAÇÃO DE GUERRA DA ULBRA



Em meio a brigas com o Fisco, acusações de desvios de recursos e dívidas que chegam a R$ 4 bilhões, a Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), baseada em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, vem executando seu tumultuado plano de reestruturação.

Uma das maiores instituições privadas do ensino superior no País, com mais de 130 mil alunos, a Ulbra já deixou para trás negócios que davam prejuízo, como hospitais e um plano de saúde, vendeu ativos e demitiu funcionários.

Venda de ativos:

O tanque Sherman da Segunda Guerra Mundial é uma das poucas peças de museu desativado que sobraram na Ulbra Neste momento, a Ulbra vai enfrentar sua principal batalha: renegociar a dívida de R$ 1 bilhão com bancos, fundos de pensão e fornecedores.

Uma das alternativas em análise é buscar dinheiro novo, inicialmente entre os atuais credores. Entre os maiores estão Banrisul, Banco da Amazônia, Indusval e Bicbanco, além de fundos de pensão. A ideia é criar uma sociedade anônima para administrar a renegociação da dívida e receber novos aportes de investidores.

Na área de educação superior há 40 anos, a universidade gaúcha surgiu a partir da primeira escola primária da Igreja Luterana Brasileira, fundada por imigrantes alemães em 1911, em Canoas. O grupo concentra a maior parte de seus estabelecimentos no Rio Grande do Sul.

Ao longo do tempo, descontrole administrativo e investimentos em negócios fora da área da educação que geravam prejuízos contribuíram para a gigantesca dívida do grupo. A atuação da Ulbra passava por negócios na área da saúde, com planos médicos e hospitais, imobiliária e um museu de tecnologia. Mantido em sociedade com a GM, o museu abrigava 300 automóveis e até um tanque Sherman da Segunda Guerra Mundial. Parte dos carros foi devolvida à montadora e parte leiloada para fazer caixa – o Sherman continua estacionado em frente ao museu por absoluta falta de interessados.

A universidade também encerrou os patrocínios esportivos – chegou a manter equipes competitivas em modalidades como futebol de salão, vôlei e basquete. “Pelo menos já estancamos a sangria de caixa”, diz o reitor da Ulbra, Marcos Fernando Ziemer. “Perdíamos R$ 15 milhões por mês e estamos agora chegando ao equilíbrio.”

Com receita líquida de R$ 520 milhões no ano passado, a Ulbra teve resultado operacional negativo de R$ 36 milhões. Já foi uma melhora em relação à perda de R$ 95 milhões de 2009, quando havia dúvidas se a universidade teria que fechar as portas.

A Ulbra começou o ano com resultado operacional positivo e deve gerar algum lucro em 2011. “O negócio de saúde era o maior gerador de déficit”, afirma André Schwartzman, diretor da área de reestruturação da KPMG, que está assessorando a universidade. Segundo ele, a maior parte da redução do número de funcionários, de 7 mil para 5,8 mil, foi obtida com o fechamento do plano de saúde controlado pela Ulbra e pela transferência de quatro hospitais.

Na operação de guerra executada pelo reitor Ziemer, a universidade entregou três hospitais à União em troca de redução de dívidas tributárias. O Hospital Universitário, essencial para o funcionamento de cursos da área de biológicas, foi repassado à prefeitura de Canoas e sua administração acabou posteriormente transferida ao grupo gaúcho hospitalar Mãe de Deus. Parte dos funcionários foi reabsorvida pelos novos administradores dos hospitais.

O plano de saúde, cuja carteira de clientes ficou reduzida das antigas 120 mil pessoas para 15 mil, tornou-se inviável economicamente e sofreu intervenção da Agência Nacional de Saúde. Os clientes estão sendo redistribuídos para a concorrência e a Ulbra também está renegociando passivos que tinha com os prestadores de serviços.

Conseguir investidores para um grupo tão complicado não será tarefa fácil. O passivo fiscal de R$ 3 bilhões inclui multas que estão sendo contestadas pelos advogados da Ulbra. Com isso, eles tentam reduzir o total devido para algo entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões, mas a contestação pode durar anos.

Um inquérito da Polícia Federal apura se a gestão anterior desviou recursos da instituição. “O processo mostra indícios de desvios de quantias consideráveis”, diz o reitor Ziemer. Depois de deixar pelo caminho os negócios que davam mais prejuízo, a Ulbra também está buscando mais eficiência na área de educação, que também sofria com a falta de controle. “Quando o trabalho começou, identificamos que 40% das turmas da universidade eram inviáveis e as mensalidades dos alunos não cobriam os custos”, diz Schwartzman, da KPMG. Foram fechados principalmente cursos técnicos.

A negociação da dívida de R$ 1 bilhão com os mais de 2,7 mil credores (dos quais 50 financeiros, entre bancos e fundos de pensão) está apenas começando. O grau de dificuldade da empreitada pode ser medido pela postura do Banrisul, o maior credor da Ulbra. O banco gaúcho informou não ter aceitado a primeira proposta de reestruturação apresentada pela KPMG. Os outros bancos credores consultados não comentaram o assunto até o fechamento desta edição.


Fonte: ISTOÉDinheiro/Por Tatiana Bautzer

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