No início deste ano, os sinais eram animadores nos EUA. Consumo e produção estavam em recuperação, apesar do desemprego elevado.
Agora, sabe-se que o coração da crise americana ainda bate fraco, quase precisando voltar à UTI.
A origem da crise nos EUA está no mercado imobiliário. Os bancos emprestaram tanto e a tantos que os preços dos imóveis foram para o espaço (qualquer semelhança com o Brasil, em outra escala, não é mera coincidência).
Em um determinado momento, em meados de 2008, a "bolha" imobiliária e de financiamentos nos EUA estourou e os preços das casas começaram a despencar. Assim como a riqueza das famílias. Elas costumam levantar empréstimos dando seus imóveis como garantia.
Hoje, quase 30% dos mutuários americanos devem mais do que valem suas casas. E os preços dos imóveis caíram mais 8,2% nos últimos 12 meses (3% só no primeiro trimestre).
Endividados, com prestações elevadas e temendo o desemprego, os americanos não tiveram outra alternativa a não ser poupar.
A dívida desse pessoal ainda é gigantesca: US$ 11,5 trilhões (mais de cinco PIBs brasileiros). Mas, desde o início da Grande Recessão de 2008, as famílias conseguiram se livrar de US$ 1 trilhão em dívidas.
É essa combinação de preços das casas em queda e aumento da poupança das famílias que está empacando a recuperação dos EUA, onde dois terços do PIB são gerados pelo consumo das famílias.
O Fed (o BC americano) vinha praticamente jogando dinheiro pela janela via empréstimos a bancos e empresas para tentar recuperar o país. Outro programa concedeu incentivos tributários de US$ 8.000 para quem quisesse comprar seu primeiro imóvel.
Essas "bóias" funcionaram por um tempo, antecipando a demanda futura. Agora a economia rateia de novo.
O Brasil não são os EUA. Mas já furamos o teto da meta de inflação do BC (6,5%) muito por conta de uma expansão do crédito ao consumo três vezes maior do que a dos financiamentos ao setor produtivo.
No mercado imobiliário, já há exemplos bizarros de preços inflados. E muita gente financiando mais de 70% do valor de casas e apartamentos.
A crise americana deveria servir de alerta. Quando ela vem, a ressaca do crédito é pesada.
Fernando Canzian é repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de Brasil e do Painel e correspondente em Washington e Nova York. Ganhou um Prêmio Esso em 2006 e é autor do livro "Desastre Global - Um ano na pior crise desde 1929". Escreve às segundas-feiras na Folha.com.
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