Há pouco mais de um ano (20/5), escrevi artigo intitulado “Mercado vai se valorizar”, no qual tentei reunir os fatores que indicavam uma continuidade na valorização dos imóveis.
De lá para cá, segundo o índice
ZAP-Fipe, o mercado de São Paulo cresceu cerca de 14,9%. Pois bem,
passado um ano, a questão permanece: existe uma bolha imobiliária?
O
mercado continuará se valorizando? Melhor comprar agora ou esperar?
De pronto, eu afastaria qualquer sinal de bolha imobiliária no
Brasil. O que se verificou em países onde este episódio ocorreu não
passa nem perto do quadro econômico-imobiliário que estamos vivendo no
Brasil.
Só para exemplificar: na Espanha, de 1997 a 2007, para uma
população de 47 milhões, construíram-se 5,7 milhões de imóveis. O
crédito imobiliário chegou a representar 102% do PIB espanhol. Existem
atualmente 1 milhão de imóveis vazios e 100 bilhões de euros de crédito
em atraso.
A Irlanda, com 4,5 milhões de pessoas, experimentou, entre 1996 e
2005, a construção de mais de 500 mil habitações. Hoje, existem mais de
300 mil imóveis vagos. Nos Estados Unidos, os créditos imobiliários
concedidos chegaram a ser apelidados de “Ninja”, no income, no jobs, no
assets (sem renda, sem emprego, sem patrimônio).
Pessoas chegaram a
financiar mais de três móveis. Ou seja, um misto de efeito manada, com
ganância desmedida. Sem comentários...
O forte crescimento imobiliário experimentado pelo Brasil,
nestes últimos anos tem fundações bem mais sólidas. A estabilização da
moeda propiciou considerável aumento de renda, especialmente nas classes
C e D. A medida que temos uma classe média ascendente, é natural que
essas pessoas ambicionem adquirir sua casa própria.
E não se trata de comprar dois ou três imóveis. Ao contrário, o
brasileiro de classe média valoriza essa decisão, analisa-a com cuidado
e, se tiver de abrir mão de outros bens para pagar seu imóvel, fará
exatamente isso. Afinal, ter um teto é o maior desejo, e legar um bem de
raiz aos descendentes continua a ser motivo de orgulho e tranqüilidade
para pais e mães de família.
A relação crédito imobiliário versus PIB, não obstante estar
crescendo ano a ano, não chega a 7%, bem abaixo da média mundial, que
gira entre 30% a 45%. E mais, o sistema financeiro do país sofre forte
regulação. É grande a quantidade de informações que o setor bancário
precisa repassar para o Banco Central quando vai realizar uma concessão
de crédito, o que afasta a possibilidade de se formarem as chamadas
“situações de risco sistêmico”.
Além disso, não é fácil conseguir crédito no Brasil. Os bancos
questionam minuciosamente a capacidade de pagamento daqueles que se
candidatam a obter qualquer modalidade de financiamento, especialmente o
imobiliário. Não é à toa que o sistema financeiro vem continuamente
expandindo sua carteira de crédito imobiliário, cujas taxas de
inadimplência são as mais baixas do setor, não chegando a 2%.
Contudo, um dos mais importantes de todos os fatores é o
equilíbrio entre oferta e demanda. Apesar de muitas pessoas terem
adquirido imóveis nos últimos dez anos, graças, sobretudo, à retomada de
uma política de concessão de crédito imobiliário – algo que ficara
praticamente esquecido desde o final do milagre econômico dos anos 70 – o
déficit habitacional, segundo o IBGE, ainda ultrapassa 8 milhões de
moradias.
Temos, portanto, um longo caminho a percorrer antes de entrarmos
numa situação de “bolha”. Há espaço no mercado para todo tipo de
empreendimento, desde unidades adequadas à faixa de renda do importante
programa Minha Casa, Minha Vida, até bairros planejados.
Por outro lado, não é possível imaginarmos que os preços dos
imóveis permaneçam subindo indefinidamente. A contínua valorização nos
últimos cinco anos, de mais de 170%, em média, aparenta esgotar-se e, em
alguns locais onde houve grande concentração de lançamentos, as
construtoras estão fazendo ajustes de estoque e promovendo descontos.
Porém, engana-se quem pensa que os preços dos imóveis
despencarão na cidade de São Paulo. Inúmeros outros fatores, como falta
de terrenos, demora nas aprovações (entre setembro de 2012 e abril de
2013, a Prefeitura de São Paulo aprovou apenas dois projetos), ausência
de outorga onerosa, custos de compensações urbano-ambientais e
crescimento demográfico impedem essa esperada desvalorização. Devemos
passar o ano de 2013 acompanhando o ritmo inflacionário.
Luiz Augusto Pereira de Almeida
Diretor da Fiabci/Brasil e diretor de marketing da Sobloco Construtora
Fonte: Monitor Mercantil
Luiz Augusto Pereira de Almeida
Diretor da Fiabci/Brasil e diretor de marketing da Sobloco Construtora
Fonte: Monitor Mercantil
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