Essa é a terceira temporada de verão consecutiva nos Estados Unidos em que o temor de outro colapso econômico concentra as atenções. Só que dessa vez há uma diferença: o mercado imobiliário não está patinando. Aliás, é bem o contrário. Em meio a uma série de dados econômicos ora neutros, ora decepcionantes, os números relativos ao mercado de imóveis são um ponto positivo.
O relatório mais
recente sobre o ritmo da construção em maio e as cifras da semana
passada sobre a venda de imóveis novos e usados no mesmo mês superaram
as expectativas dos economistas. Ainda na semana passada, o resultado
trimestral da Lennar Corp. e da KB Home ficaram muito além do esperado.
É um cenário bem distinto do registrado um ano atrás, quando a
esperança de recuperação do mercado imobiliário americano foi frustrada
por uma temporada de compras no segundo trimestre que mais uma vez não
se materializou. É certo que, embora os problemas na cadeia de
suprimento devido ao tsunami no Japão e o impasse nas negociações sobre o
teto da dívida americana tenham sido fatores importantes na
desaceleração do verão passado nos EUA, a continuidade da pasmaceira no
mercado imobiliário também contribuiu.
A melhora nas condições do setor poderia abrir o caminho para um
crescimento maior. Já que os imóveis costumam ser um sustentáculo do
mercado depois de uma crise, a falta de recuperação ali é uma das
principais razões para a economia americana ter avançado tão pouco desde
o fim da recessão.
Mas a contração no setor imobiliário foi tanta que, mesmo que
dispare, o mercado seria incapaz de dar diretamente um empurrão
expressivo na economia. Investimentos residenciais, que incluem a
construção de moradias, reformas e comissões de corretagem, representam
apenas 2,3% do produto interno bruto americano atualmente. Logo, ainda
que o total de investimentos suba, digamos, 20% no próximo ano, esse
aumento acrescentaria menos de meio ponto porcentual ao crescimento do
PIB.
Já quando o assunto é o efeito indireto sobre a economia, o mercado imobiliário tem um impacto muito maior.
Consideremos o mercado de trabalho. Hoje, há cerca de 565.000 pessoas
empregadas na construção civil no país. É menos do que o recorde de
mais de 1 milhão de trabalhadores ativos de 2006 e os 829.000 de dez
anos atrás, antes do início da bolha imobiliária. O número de corretores
de imóveis, de agentes hipotecários, de encanadores, carpinteiros e
afins caiu consideravelmente. O mesmo vale para empregados de
madeireiras, lojas de material de construção e outros. Se somarmos todos
eles, a queda no número de pessoas em ocupações ligadas à construção é
muito maior que 1 milhão, em comparação com dados de 2002.
Há, ainda, efeitos secundários. Fabricantes de equipamentos e
materiais de construção, como a Caterpillar Inc. e a Masco Corp., vão se
beneficiar da recuperação do setor. O mesmo vale para montadoras de
veículos, que venderiam mais caminhonetes se o bolso do trabalhador da
construção civil estiver mais forrado.
Também é importante o efeito do setor no patrimônio da população e em
sua percepção de riqueza. Agora que os preços finalmente começam a se
recuperar, donos de imóveis não precisam mais temer a redução diária do
valor de seu patrimônio. Até a estabilidade dos preços já teria um belo
impacto nessa frente.
Talvez ainda falte muito para as famílias equilibrarem seus
orçamentos debilitados, mas parte da incerteza foi eliminada, o que já é
alguma coisa. O mesmo se pode afirmar em relação a instituições
financeiras com dívidas hipotecárias no balanço. A combinação das duas
coisas poderia ajudar a aumentar a disposição dos consumidores para
gastar e a dos bancos para emprestar, nos meses seguintes.
No mínimo, a boa notícia no setor imobiliário deveria diminuir o
temor de que a economia vá parar de novo devido aos problemas da Europa e
à desaceleração na China. E pode até ajudar a tirar a economia
americana do buraco em que ficou atolada nos últimos três anos.
Por Justin Lahart
The Wall Street Journal
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