O mercado imobiliário chinês, que andava patinando, parece ter voltado a
avançar, fortalecendo um importante pilar do crescimento do país e
reduzindo as chances de que a desacelerada economia da China pare de vez
no segundo semestre do ano.
De acordo com uma pesquisa com incorporadoras e corretores de
imóveis, o preço médio do metro quadrado em cem grandes cidades chinesas
subiu em junho na comparação com o mês anterior — depois de nove meses
consecutivos de queda. A pesquisa registrou outros sinais de que o
declínio no mercado chinês pode ter chegado ao fim, incluindo a retomada
em maio do investimento imobiliário e uma queda bem menor na venda de
imóveis em comparação com abril.
No plano internacional, commodities como aço, minério de ferro e
cobre dependem da atividade construtora na China para crescer. O mesmo
vale para fabricantes americanos e europeus de equipamentos usados na
construção civil.
"O pior cenário [sobre o crescimento chinês] envolve o colapso do
mercado imobiliário", disse o economista Mark Williams, especialista em
Ásia da Capital Economics, de Londres. "Se o mercado não está em colapso
e ensaia uma recuperação, o futuro parece bem mais promissor."
O preço médio de imóveis em junho subiu 0,05%, para 8.688 yuans (US$
1.368) o metro quadrado, segundo um indicador de preços divulgado na
segunda-feira pelo Sistema de Índices de Imóveis da China. Embora o
preço de moradias tenha caído em 55 dos centros que compõem o índice, em
comparação com 45 nos quais subiu, algumas das maiores altas ocorreram
nas maiores cidades da China. Em Pequim, os preços subiram 2,29% em
junho (em relação a maio). Em Xangai, a alta foi de 0,65%; em Shenzhen,
de 0,8%. Entre as cidades monitoradas, a maior queda no mês (3,87%) foi
em Zhangjiagang, cidade de 1,3 milhão de habitantes no leste do país.
Em Pequim, o número de residências vendidas também subiu (10,5%) em
junho, somando 25.602 unidades, informou a agência de notícias Xinhua na
segunda-feira. É um aumento de 50,6% ante o ano anterior.
Em outra frente, o banco Standard Chartered informou recentemente que
a queda na venda de imóveis no país foi menor no segundo trimestre de
2012, enquanto as vendas de apartamentos nos maiores centros da China
tinham começado a crescer.
Depois de cair durante dois anos, o preço de apartamentos ficou mais
ao alcance do chinês comum. Além disso, um corte de juros em junho
reduziu o custo do financiamento. A muito divulgada campanha da China
para turbinar o crescimento também pode ter levado compradores a achar
que os preços vão subir daqui para frente.
Florrie Tang, que comprou um apartamento na periferia de Xangai em
junho, disse que vinha buscando um imóvel desde março e achou que os
preços já não tinham mais como cair. A gerente de uma empresa de design,
de 27 anos, calcula que o apartamento é uma boa proteção contra a
inflação, embora diga não acreditar que os preços de imóveis voltem a
subir no ritmo de antes. Nas grandes cidades, o valor do metro quadrado
quase dobrou entre 2006 e 2010.
Cher Cai, diretor assistente da incorporadora Shimao Property
Holdings, de Xangai, disse que "com o mercado imobiliário se aquecendo,
definitivamente seremos mais agressivos no lançamento de novos projetos e
aceleração das obras".
Desde 2010 o governo chinês vinha tentando esvaziar o que já tinha
virado uma bolha imobiliária —sem arrastar junto a economia chinesa. A
campanha se concentrou basicamente na ponta nobre do mercado imobiliário
e buscou dificultar a compra de múltiplos imóveis para especulação no
mercado. Além de outras medidas, o governo elevou para 60% a entrada
cobrada para um segundo imóvel — o dobro do exigido no financiamento da
primeira casa própria.
Para evitar um tombo completo do mercado imobiliário, a China lançou
um vasto programa de moradia popular voltado a trabalhadores de baixa
renda. Embora esteja repleto de problemas — da falsificação de
informações ao baixo padrão das obras —, o programa parece, sim, ter
colocado um piso sob o mercado imobiliário, dizem analistas.
Ainda assim, o desaquecimento desse mercado, combinado com a queda na
demanda de exportações da China na Europa e em outros lugares, derrubou
o crescimento da economia chinesa para 8,1% no primeiro trimestre de
2012, o menor ritmo desde o segundo trimestre de 2009, quando o mundo
estava em recessão. A expectativa geral é a de que a economia perca um
pouco mais de fôlego, para cerca de 7,5% no segundo trimestre de 2012.
Isso levou Pequim a se concentrar mais no crescimento, relaxando a
política monetária e aprovando uma leva de projetos de investimento.
A retomada no mercado imobiliário deve ajudar a China a crescer mais
depressa agora no segundo semestre (na comparação entre trimestres),
disse o economista do banco UBS Wang Tao. Já Stephen Green, economista
do Standard Chartered, disse que a maioria dos ganhos só deve se
materializar no ano que vem, pois é muito grande o estoque de imóveis
encalhados com as incorporadoras.
Williams, o economista da Capital Economics, disse que, com o
consumidor voltando a achar que investir no mercado imobiliário é um bom
negócio, há uma chance, ainda que remota, de que vendas e preços
disparem. Só que o tiro poderia sair pela culatra, disse. Outro grande
salto nos preços de imóveis provavelmente acabaria em um colapso do
mercado.
Fonte Bob Davis e Ester Fung de Pequim
Colaborou Sandra Hu.
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