"Aqui na Argentina, compramos e vendemos imóveis
em dólares há mais de 50 anos. Por isso, o controle da moeda americana
paralisou o setor", disse o arquiteto Germán Gomez Picasso, gerente do
Reporte Inmobiliario (Balanço Imobiliário), entidade privada
representativa do setor, que reúne construtoras e imobiliárias.
Em outubro do ano passado, o governo
argentino dificultou a compra de dólares no país, exigindo dos
compradores documentação que indique a existência de recursos para a
compra e a finalidade da aquisição.
Segundo Picasso, desde então os possíveis
compradores e vendedores decidiram "adiar" suas operações, esperando
para ver o comportamento do dólar.
Na semana passada, o governo ampliou as medidas
de restrição de compra da moeda americana. “Nas últimas horas, com os
novos controles, a situação ficou mais complicada”, disse.
Analisando dados do Registro de Propriedade de
Imóveis, um órgão do governo de Buenos Aires, Picasso diz que as vendas
caíram 22% em abril, na comparação com mesmo mês do ano passado.
Economistas argumentam que o governo aplicou
medidas de controle de venda de dólares para ampliar a quantidade da
moeda americana no caixa e evitar a maior evasão de divisas.
"Mas estas medidas estão gerando efeito
contrário", disse o economista Alfonso Prat-Gay, ex-presidente do Banco
Central, à imprensa local.
Câmbio
O dólar está entre as principais notícias da
Argentina. "O governo adotou uma visão policial para controlar a moeda
americana e o mercado se encarrega de colocar o valor que quiser", disse
o ex-ministro da Economia, Roberto Lavagna, à imprensa local.
É nesse clima que, segundo os especialistas, as operações de compra e venda de imóveis estão "paralisadas".
Nos últimos dias, pela primeira vez em muitos
anos, o dólar paralelo ultrapassou a barreira dos cinco pesos. Nesta
quarta-feira, o dólar oficial foi cotado a 4,47 pesos, o paralelo em
5,45 pesos e para as grandes operações em até 5,86 pesos. "O paralelo
caiu levemente em relação à véspera, mas as incertezas continuam",
publicou o jornal El Dia, da cidade de La Plata.
Na véspera, diante de informações sobre três
valores diferentes para a moeda, a presidente Cristina Kirchner
desmentiu que o governo planeje aplicar o "desdobramento cambiário". "Um
jornal publicou que o vice-ministro da Economia (Axel Kiciloff) pensava
em quatro, cinco ou trinta tipos de câmbio. "Não se pode acreditar
nestas coisas", afirmou. Porém, Kiciloff é definido por consultores e pela mídia local como um dos mais influentes no governo.
O presidente da Câmara Imobiliária da Argentina,
Nestor Walenten, disse à rádio Mitre, de Buenos Aires, que o comprador
que não tem os dólares suficientes não realiza a compra devido ao acesso
"limitado" ao setor de câmbio. Segundo ele, o controle da venda de
dólares está provocando um "atraso" nas compras e vendas de imóveis do
país.
"O mercado de imóveis novos até pode aceitar
pesos, mas no mercado de usados, após 50 anos de operações em dólares, é
muito difícil (pensar na moeda local)”, afirmou.
O diretor de uma das
principais construtoras do país, Marcelo Orfila, disse ao jornal La Nación, que “aceitar pesos foi a única alternativa para evitar o freio nas vendas".
Walenten observou, porém, que na maioria dos
casos o comprador pode ter os pesos na conta, mas dificilmente comprará
porque o vendedor "também prefere" receber em dólares.
Vendas
Walenten estima que as vendas caíram cerca de
10% nos primeiros quatro meses deste ano em relação ao mesmo período do
ano passado. Mas Gomez Picasso afirmou que o percentual não retrata a
realidade da última semana, após novas medidas que ampliaram o controle
da venda da moeda americana.
Segundo Picasso, os créditos hipotecários na
Argentina ficaram limitados após a histórica crise de 2001. Desde então,
os principais compradores são aqueles que pouparam em dólares e querem
comprar imóveis como investimento.
Por isso, agora, os investidores esperam para
tomar uma decisão. "Ninguém quer ficar sem os dólares guardados. Todos
preferem esperar para ver o que acontecerá daqui para frente", disse.
Segundo ele, a situação pode ser "somente conjuntural" e por isso melhor esperar.
Pesquisa realizada pelo Reporte Imobiliário em
todo o país, na semana passada, indicou que 80% das imobiliárias
argentinas registraram quedas nas vendas acima de 20% nos últimos dias.
"Mas como as operações demoraram cerca de dois
ou três meses para serem concretizadas, entre o sinal e o pagamento
total, nossa expectativa é que as vendas vão cair mais, retratando a
paralisação que constatamos hoje no setor", afirmou.
Fonte: Marcia Carmo de Buenos Aires
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