sábado, 19 de maio de 2012

CONTROLE DO DÓLAR FREIA SETOR IMOBILIÁRIO ARGENTINO


"Aqui na Argentina, compramos e vendemos imóveis em dólares há mais de 50 anos. Por isso, o controle da moeda americana paralisou o setor", disse o arquiteto Germán Gomez Picasso, gerente do Reporte Inmobiliario (Balanço Imobiliário), entidade privada representativa do setor, que reúne construtoras e imobiliárias.
Em outubro do ano passado, o governo argentino dificultou a compra de dólares no país, exigindo dos compradores documentação que indique a existência de recursos para a compra e a finalidade da aquisição.
Segundo Picasso, desde então os possíveis compradores e vendedores decidiram "adiar" suas operações, esperando para ver o comportamento do dólar.
Na semana passada, o governo ampliou as medidas de restrição de compra da moeda americana. “Nas últimas horas, com os novos controles, a situação ficou mais complicada”, disse.

Analisando dados do Registro de Propriedade de Imóveis, um órgão do governo de Buenos Aires, Picasso diz que as vendas caíram 22% em abril, na comparação com mesmo mês do ano passado.
Economistas argumentam que o governo aplicou medidas de controle de venda de dólares para ampliar a quantidade da moeda americana no caixa e evitar a maior evasão de divisas.
"Mas estas medidas estão gerando efeito contrário", disse o economista Alfonso Prat-Gay, ex-presidente do Banco Central, à imprensa local.
 
Câmbio
O dólar está entre as principais notícias da Argentina. "O governo adotou uma visão policial para controlar a moeda americana e o mercado se encarrega de colocar o valor que quiser", disse o ex-ministro da Economia, Roberto Lavagna, à imprensa local.
É nesse clima que, segundo os especialistas, as operações de compra e venda de imóveis estão "paralisadas".
Nos últimos dias, pela primeira vez em muitos anos, o dólar paralelo ultrapassou a barreira dos cinco pesos. Nesta quarta-feira, o dólar oficial foi cotado a 4,47 pesos, o paralelo em 5,45 pesos e para as grandes operações em até 5,86 pesos. "O paralelo caiu levemente em relação à véspera, mas as incertezas continuam", publicou o jornal El Dia, da cidade de La Plata. 
Na véspera, diante de informações sobre três valores diferentes para a moeda, a presidente Cristina Kirchner desmentiu que o governo planeje aplicar o "desdobramento cambiário". "Um jornal publicou que o vice-ministro da Economia (Axel Kiciloff) pensava em quatro, cinco ou trinta tipos de câmbio. "Não se pode acreditar nestas coisas", afirmou. Porém, Kiciloff é definido por consultores e pela mídia local como um dos mais influentes no governo.
O presidente da Câmara Imobiliária da Argentina, Nestor Walenten, disse à rádio Mitre, de Buenos Aires, que o comprador que não tem os dólares suficientes não realiza a compra devido ao acesso "limitado" ao setor de câmbio. Segundo ele, o controle da venda de dólares está provocando um "atraso" nas compras e vendas de imóveis do país.
"O mercado de imóveis novos até pode aceitar pesos, mas no mercado de usados, após 50 anos de operações em dólares, é muito difícil (pensar na moeda local)”, afirmou. 

O diretor de uma das principais construtoras do país, Marcelo Orfila, disse ao jornal La Nación, que “aceitar pesos foi a única alternativa para evitar o freio nas vendas".
Walenten observou, porém, que na maioria dos casos o comprador pode ter os pesos na conta, mas dificilmente comprará porque o vendedor "também prefere" receber em dólares.
 
Vendas
Walenten estima que as vendas caíram cerca de 10% nos primeiros quatro meses deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Mas Gomez Picasso afirmou que o percentual não retrata a realidade da última semana, após novas medidas que ampliaram o controle da venda da moeda americana.

Segundo Picasso, os créditos hipotecários na Argentina ficaram limitados após a histórica crise de 2001. Desde então, os principais compradores são aqueles que pouparam em dólares e querem comprar imóveis como investimento.
Por isso, agora, os investidores esperam para tomar uma decisão. "Ninguém quer ficar sem os dólares guardados. Todos preferem esperar para ver o que acontecerá daqui para frente", disse.

Segundo ele, a situação pode ser "somente conjuntural" e por isso melhor esperar.
Pesquisa realizada pelo Reporte Imobiliário em todo o país, na semana passada, indicou que 80% das imobiliárias argentinas registraram quedas nas vendas acima de 20% nos últimos dias.
"Mas como as operações demoraram cerca de dois ou três meses para serem concretizadas, entre o sinal e o pagamento total, nossa expectativa é que as vendas vão cair mais, retratando a paralisação que constatamos hoje no setor", afirmou.

Fonte: Marcia Carmo de Buenos Aires

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