Concebido para realizar o sonho de milhões de brasileiros, o programa
Minha Casa, Minha Vida (MCMV) tornou-se um pesadelo para muitos
investidores europeus. A violenta retração do mercado imobiliário em
países como Espanha, Itália, Portugal e até Inglaterra, consequência da
crise econômica que o continente atravessa, provocou um movimento de
migração de construtoras, incorporadoras e fundos de investimento para o
Brasil.
Lançado num momento de forte depressão econômica na Europa, o Minha
Casa, Minha Vida, com cifras grandiosas para construir milhões de
moradias populares num curto espaço de tempo, parecia bastante sedutor
para essas companhias, que cruzaram o Atlântico em busca de alta
rentabilidade, o que compensaria a ociosidade da demanda europeia.
Os empresários europeus atuaram basicamente em duas frentes:
constituindo subsidiárias no País ou associando-se a empresas locais. Ao
se instalarem em terras brasileiras, porém, a realidade para muitos
deles foi bem distinta da que motivou a vinda para o Brasil. A principal
reclamação é que a burocracia para a aprovação de projetos resultou em
atrasos para a assinatura dos contratos, execução das obras e
recuperação do capital investido, tornando muitos empreendimentos
inviáveis, segundo os empresários.
‘Nunca mais’. "Eu não quero participar do Minha
Casa, Minha Vida nunca mais", sentenciou Sílvio Bezerra, presidente da
Ecocil, a maior construtora e incorporadora do Rio Grande do Norte. A
decisão de não investir mais no programa foi tomada em conjunto com o
sócio inglês, o fundo de investimentos Salamanca Capital, que detém
atualmente 65% da companhia. A gestão da companhia é compartilhada com
os empresários brasileiros, que a fundaram há 64 anos.
A empresa tem um único projeto no Minha Casa, Minha Vida, para
consumidores com renda de seis a 10 salários mínimos em Natal, que
demorou um ano e meio para ter a análise de risco aprovada, de acordo
com o executivo. "A Caixa pediu até identidade e CPF do dono da empresa
na Inglaterra", relatou Bezerra.
Segundo ele, em função desse atraso, dos R$ 12 milhões investidos com
capital próprio, a Caixa só reembolsou R$ 1,5 milhão até agora. Esse
atraso, de acordo com Marcelo Freitas, diretor financeiro da empresa,
jogou por terra a análise de risco feita na tomada de decisão dos
investidores, quando a projeção de investimentos com recursos próprios
seria de menos de 5%.
"É um banho de água fria muito grande. Os investidores estrangeiros
têm um nível de sofisticação incrível e cálculos bem precisos que não
comportam esse tipo de situação", afirmou o executivo.
Fonte: ESTADÃO
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