Você já levou seu cachorro no “agility dog”? Treina suas tacadas no “putting green”? Leva a roupa suja para a “connect laundry”? Conhece a sensação de viver em um “apartamento giardino”? Para quem pretende viver nos novos edifícios lançados pelo mercado imobiliário, o vocabulário precisa ir um pouco além do português básico. É cada vez mais frequente encontrar áreas batizadas com termos estrangeiros, na sua maioria em inglês, mas também há espaço para o italiano, especialmente quando o empreendimento está localizado em bairros tradicionais da colônia, como a Mooca, em São Paulo.
“A utilização de expressões estrangeiras não é peculiar ao mercado imobiliário, e sim um reflexo da ‘miscigenação’ da linguagem. Vários setores da economia – o financeiro, o econômico, o automobilístico – empregam termos estrangeiros cotidianamente, o que continuará ocorrendo, principalmente por conta da internet, que globaliza a comunicação”, afirma Pedro Cesarino, diretor presidente da Publicidade Archote, agência especializada no setor imobiliário. É fato que o uso do estrangeirismo não é uma exclusividade deste mercado, mas até os profissionais da área reconhecem a necessidade de um equilíbrio. “Há uma tentativa de dar uma aura de sofisticação, mas algumas são demais, como o ‘walking distance’ [distância que pode ser percorrida a pé]. Outras coisas são difíceis de expressar com um correlato em português, como o ‘gourmet’”, diz José Roberto Federighi, diretor de operações da imobiliária DelForte Frema.
Geralmente, a escolha dos nomes que irão batizar as futuras áreas de um novo empreendimento é feita por um conjunto que compreende projetistas, arquitetos, construtora, imobiliária, departamento de marketing e agência de publicidade. O número de responsáveis varia conforme o porte da incorporadora que está lançando o projeto e não existe uma padronização a respeito do significado de cada termo. Ou seja, uma “varanda gourmet” em um edifício pode vir equipada com churrasqueira, pia, bancada, forno de pizza e espaço para mesa e cadeiras, além de ter acesso direto para a cozinha. Já em outro prédio, ela pode conter apenas um espaço para instalar uma pequena churrasqueira portátil.
Para não haver dúvidas na hora da compra, é importante checar o memorial descritivo, parte integrante do contrato que traz a lista detalhada dos itens que irão compor as áreas do empreendimento. “Se o memorial descritivo não estiver 100% completo, as imagens do material promocional fazem parte da venda e podem ser usadas junto aos órgãos de defesa do consumidor”, diz Federighi.
Na opinião dos profissionais entrevistados, o uso de outra língua realmente ajuda a valorizar o imóvel na hora da venda. “Isso é algo natural, está no imaginário do consumidor, principalmente na classe média e média alta. São palavras que estão no dia a dia dele”, afirma Wilson Mello, diretor de marketing da imobiliária Coelho da Fonseca. Entretanto, só o marketing não garante que o corretor vai fechar o negócio. “O que valoriza o imóvel é o que ele tem de verdadeiro. O que a terminologia faz é levar até o local o interessado que se identifica com o apelo. Se ao conhecer o espaço gourmet o cliente verifica que se trata de uma churrasqueirinha mequetrefe, não há terminologia que o faça comprar”, diz Cesarino.
Mas será que o cliente já está familiarizado com esse vocabulário? Nesse ponto, os corretores e a internet desempenham um papel importante. “Os maiores argumentos de venda estão relacionados aos corretores saberem explicar o que são esses itens de lazer. Hoje, na internet, você consegue disseminar isso colocando perspectivas artísticas com montagens de tour em 3D”, afirma Fábio Romano, diretor de incorporação da Yuny Incorporadora. Nesse caso, uma imagem realmente vale mais do que algumas palavras sem tradução, e, na falta dela, é contar com a intuição do corretor. “Quem não entende tem vergonha de falar que não sabe. Se o corretor for um bom profissional, na hora da venda vai explicar tudo aquilo que tem no produto”, diz Federighi. Para ajudar o leitor de UOL Casa e Imóveis, elaboramos um pequeno glossário com alguns termos encontrados em anúncios recentes. Alguns se tornam comuns a vários empreendimentos, trazendo pequenas variações. Não incluímos termos específicos usados por apenas um edifício, e que, para consolo da maioria dos consumidores, deixaram em dúvida até mesmo nossos entrevistados a respeito de seu significado. Sinal de que ainda vamos precisar de muita tradução pela frente.
GLOSSÁRIO IMOBILIÁRIO
Agility Dog: área para passeio e/ou treinamento de cães, com rampas, túneis e outros acessórios de lazer para o animal. O espaço pode ser incrementado com o serviço de um treinador, mediante pagamento do condômino interessado.
Apartamento Giardino ou Garden: apartamento térreo ou localizado nos primeiros andares que possui um quintal ou jardim. Em empreendimentos de padrão mais alto, pode comportar até uma pequena piscina, churrasqueira ou forno de pizza.
Baby Space: área geralmente destinada a crianças de 0 a 2 anos, localizada em espaço aberto ou fechado. O local pode trazer brinquedos, berços, trocador de fralda e utensílios para aquecer alimentos. Em alguns condomínios há o serviço opcional de contar com uma babá de prontidão para que os pais possam deixar o bebê ali durante um determinado período.
Business Center ou Net Office: pode ser localizado dentro do apartamento ou em área comum. O espaço geralmente oferece infraestrutura para o trabalho de escritório, como internet sem fio, computador, impressora e sala de reunião para receber visitantes.
Connect Laundry ou Lavanderia Wi-Fi: mais comuns em edifícios voltados para solteiros ou jovens casais, nos quais os apartamentos não possuem área de serviço. O espaço oferece máquinas de lavar e secar em um ambiente com internet sem fio, para que o morador possa utilizar equipamentos eletrônicos enquanto aguarda o término do ciclo.
Disco: diferente de um salão de festas tradicional, trata-se de um espaço com iluminação e estética similares ao de uma boate, que pode ter como itens mesa de som para DJ, pista de dança, globo, luzes, bar e sofás.
Espaço Gourmet, Espaço Grill, Gourmet, Gourmet Roof Top, Lounge Grill, Salão de Festas Gourmet , Terraço Grill, Terraço Gourmet ou Varanda Gourmet: com a maior variação de nomenclatura, os espaços destinados ao preparo de refeições, em especial do churrasco, são encontrados em três diferentes opções: no próprio apartamento ou em áreas sociais, que podem estar no térreo ou no topo do edifício (caso do Gourmet Roof Top). Os itens que compõem essas áreas são bastante flexíveis, variando principalmente conforme o padrão do empreendimento. Dentro do apartamento, pode tratar-se desde uma varanda com espaço para uma pequena churrasqueira, praticamente integrada com a sala, até uma área com acesso independente para a cozinha, com bancada, pia, churrasqueira, forno de pizza e espaço para mesa e cadeiras. Nas áreas comuns, os acessórios são similares aos encontrados nos apartamentos, com a diferença de mais espaço para receber convidados.
Family Room ou Family Space: antigamente conhecido como sala de TV, o espaço é destinado ao convívio em família dentro do apartamento ou numa área de lazer comum. Os itens que o compõem são bastante variados, podendo incluir sofá, mesa, terraço, churrasqueira, acesso à cozinha, home theater e telão.
Fitness: destinado à prática de exercícios físicos, o local pode contar com esteira, bicicleta, aparelhos de musculação, sala de ginástica e área para alongamento.
Garage Band: com isolamento acústico, o espaço serve para a prática de instrumentos musicais. Pode ter uma estrutura de estúdio e instrumentos à disposição.
Golf Putting Green ou Putting Green: área gramada para jogadas curtas de golfe. Seu tamanho pode variar de 4 a 30 metros quadrados e inclui um número variado de buracos, em terreno com alguns desníveis.
Lounge Adolescente / Lounge Teen: espaço de convivência para jovens. Entre os possíveis itens que compõem o lugar estão sofás, computadores, mesa de jogos e sala de projeção.
Pet Garden, Pet Place ou Pet Space: as diferentes nomenclaturas servem para definir um espaço destinado aos animais, que pode ser desde uma simples área de lazer e passeio, até um local com infraestrutura para banho, tosa e demais cuidados característicos de um pet shop. Em alguns condomínios, há a possibilidade de contar com um profissional para exercer essa atividade, mediante pagamento. Em outros, o dono do animal utiliza o espaço para ele mesmo executar as tarefas.
Pizza Place: local em área comum dotado de forno para o preparo de pizzas, com mesas e cadeiras para receber convidados. Walking Distance: distância que pode ser percorrida a pé do edifício até os principais pontos de interesse, como shoppings, supermercados, estações de metrô e parques.
Fonte: Uol Casa e Imóveis/Daniela Salú
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