A casa que
ocupa quase um quarteirão inteiro no Jardim América, bairro nobre de São
Paulo, é um sinal de que nem todo mundo vai mal no mercado imobiliário
brasileiro. O imóvel, novo, está num terreno de 2 mil metros quadrados.
Tem elevador, 16 vagas de garagem, três dependências para empregados,
isolamento acústico e fechadura com biometria, entre outros detalhes. Em
novembro, ele foi comprado pela impressionante quantia de R$ 42
milhões. À vista.
Especula-se no mercado que essa tenha sido a
maior transação realizada em 2012 envolvendo um imóvel residencial. Para
a imobiliária Coelho da Fonseca, que intermediou o negócio, foi a maior
venda já feita em 37 anos de operação. Até então, o recorde da empresa
era um apartamento na Vila Nova Conceição, vendido por R$ 26 milhões.
"Foram sete meses de negociação, no maior absoluto sigilo, já que
comprador e vendedor exigem máxima confidencialidade nesses casos", diz
Fernando Sita, diretor geral da imobiliária.
A venda da casa no
Jardim América é simbólica não só pelo preço. A transação foi uma das
últimas de um ano marcante para o segmento imobiliário de luxo. A Coelho
da Fonseca, que vende imóveis com valor médio de R$ 1,2 milhão,
registrou crescimento de 31% em relação a 2011. "Foi um recorde na
história da empresa", diz Sita. Outras imobiliárias que atuam nesse
segmento, como Fernandez Mera e Lopes, também afirmam que nunca venderam
tanto imóvel de luxo como em 2012.
Não existem estatísticas
consolidadas e oficiais que mostrem a evolução da venda de casas e
apartamentos de altíssimo padrão nos últimos anos. Mas alguns dados
isolados dão uma pista do que aconteceu no segmento. A CrediPronto,
financeira imobiliária criada pela Lopes em parceria com o banco Itaú,
quase dobrou o volume de financiamento para imóveis que valem mais de R$
1,5 milhão entre 2011 e 2012 - de 5% para 9%.
As incorporadoras
imobiliárias que mais se destacaram na bolsa brasileira no ano passado
têm uma forte atuação no mercado de alto padrão. Helbor, Eztec e JHSF -
essa última especializada em imóveis de luxo - foram as que mais se
valorizaram no ano: 89%, 66% e 62%, respectivamente. A atuação dessas
companhias chama a atenção porque elas tiveram um bom desempenho
justamente num período em que o setor viu as vendas desacelerarem e os
preços estabilizarem. Entre janeiro e outubro do ano passado, a venda de
imóveis residenciais novos em São Paulo caiu 3,3% enquanto o número de
lançamentos despencou 39%.
Milionários
Quando são
questionados sobre o bom momento dos imóveis de luxo em 2012 - enquanto o
setor como um todo encolhia -, corretores e executivos dão a mesma
explicação e recorrem a um mesmo dado: o aumento do número de
milionários no País. Em 2010, 155,4 mil brasileiros tinham patrimônio
superior a R$ 1 milhão, segundo levantamento da gestora de ativos RBC
Wealth Management. No ano seguinte, esse número foi para 165 mil. "O
novo rico quer morar bem, porque isso dá status e posiciona ele na
sociedade", diz Marcelo Morales, diretor de desenvolvimento e produto da
imobiliária paulistana Fernandez Mera.
Mas não é só isso. A
redução das taxas de juros no ano passado também movimentou esse
segmento e atraiu compradores que, apesar de terem dinheiro, não tinham o
hábito de aplicá-lo em imóveis. "Não costumávamos ter executivos do
mercado financeiro entre os nossos clientes", diz Bruno Gama, diretor
geral da CrediPronto. "Eles não compravam porque eram avessos a tomar
crédito, mas com as taxas menores isso começou a mudar."
Executivos
da área de tecnologia e de setores que passaram por fortes consolidação
nos últimos anos, como o de farmácias e o de educação, também
engrossaram a carteira de potenciais compradores de imóveis de luxo em
2012, segundo os corretores. "Os interessados em adquirir imóveis de
altíssimo padrão também estão mais jovens", diz Marcelo Gurgel do
Amaral, corretor de imóveis de luxo em São Paulo há mais de 40 anos.
"Antes eram os pais que compravam, agora são os filhos."
Para
atender esse público que desembolsa fortunas por uma casa, as corretoras
especializadas têm uma equipe de profissionais exclusiva. Em geral, com
nível superior, bilíngue, e até MBA. "Mais importante ainda que a
formação, é a rede de relacionamentos", diz uma dessas corretoras
"private". "Nós frequentamos os mesmos clubes e as mesmas festas de
nossos clientes. E comemoramos os negócios com champanhe do bom."
Fonte: O Estado de São Paulo
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