A nova onda do mercado imobiliário são empreendimentos que reúnem, em uma mesma área, prédios residenciais e comerciais, shoppings e parques.
RIO DE JANEIRO
Ricardo Corrêa (à dir.), diretor de marketing da Carvalho Hosken, e Marcelo Parrera
(à esq.), gerente da RJZ Cyrela: parceria na construção de novos bairros
De tempos em tempos, o mercado imobiliário lança tendências que se
tornam febre no País. A novidade agora são os bairros planejados,
construídos a partir do zero para oferecer comodidades aos seus
moradores. Estimulados pelo aumento da renda da população nos últimos
anos e pelos programas de ampliação ao crédito, os empreendimentos
consistem, na sua maioria, em prédios residenciais, torres comerciais,
shoppings, hotéis, praças, lojas de serviços diversos e até ruas e
avenidas – tudo isso concentrado em uma mesma área. Hoje, as maiores
capitais brasileiras desenvolvem projetos exatamente com esse perfil. “É
um modelo que estimula o desenvolvimento de uma determinada região e
deverá ser o mote do setor imobiliário nas próximas décadas”, afirma
Cláudio Bernandes, presidente do Secovi-SP.
Em geral, os novos bairros são erguidos em regiões com potencial de
valorização. Foco de uma recente explosão imobiliária, a avenida Marquês
de São Vicente, na zona oeste de São Paulo, vai receber, em um terreno
de 250 mil metros quadrados, 30 torres residenciais para um contingente
de 12 mil moradores – o tamanho de algumas pequenas cidades do interior
paulista. O bairro, chamado de Jardim das Perdizes e que está sendo
construído pelas empresas Tecnisa e PDG, é diferente dos condomínios
tradicionais. Cerca de 40% do terreno foi doado à Prefeitura de São
Paulo para a construção de vias e áreas verdes. Uma parte imensa, de 50
mil metros quadrados, será transformada em parque, com acesso livre ao
público. Detalhe interessante é o prazo de construção – seis anos, uma
enormidade diante do tempo que prédios convencionais demoram para sair
do papel. Para as empresas, trata-se de um negócio e tanto: estima-se
que o projeto gere vendas acima de R$ 4 bilhões.
Outro projeto que começou a ser construído em Osasco é o bairro
Jardins do Brasil, da construtora Ezetec. O administrador de sistemas
Gustavo Souza, 25 anos, conta que sempre morou na região e, agora,
decidiu investir em um apartamento dentro do bairro planejado. “Vou
economizar 25 minutos para chegar o trabalho.”
A parceria com o setor público é vital para esses projetos. Em Recife, o
primeiro bairro planejado de Pernambuco, a Reserva do Paiva, ocupa uma
área de 526 hectares próxima à praia de Boa Viagem. O bairro, que será
construído ao longo de 15 anos com um investimento de R$ 2,6 bilhões, já
conta com um condomínio residencial de 66 casas. “Como contrapartida ao
projeto, vamos construir hospitais e centros de capacitação para a
comunidade”, afirma Luis Henrique Valverde, diretor da Odebrecht
Realizações Imobiliárias, incorporadora responsável pela Reserva do
Paiva. O Rio de Janeiro, palco do maior boom imobiliário do País, também
assiste à expansão das novas comunidades. Em parceria com a Cyrela, a
incorporadora Carvalho Hosken está construindo o bairro Cidade Jardim,
na Barra da Tijuca. “É uma das únicas áreas nobres da cidade que
comporta a implantação dos novos bairros”, diz Ricardo Correa, diretor
da Carvalho Hosken.
Embora os empreendimentos revelem uma forte tendência imobiliária, o
modelo de comunidades planejadas é alvo de críticas entre alguns
especialistas. O arquiteto e professor planejamento urbano da faculdade
de Belas Artes, Giovanni Di Prete Campari, diz que, quando espaços
planejados ganham força, é sinal de que algo não vai bem na organização
das cidades. “São lugares que oferecem qualidade de vida e segurança,
mas que não interagem com os demais nichos sociais”, afirma Felipe
Cavalcante, presidente da Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e
Turístico do Brasil (Adit Brasil), a questão é outra. “Os novos bairros
são uma reação à falta de planejamento do poder público em
infraestrutura urbana”, diz.
Fonte: Fabíola Perez
Fotos: Rodrigo Castro/Ag. ISTOÉ; divulgação.
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