sexta-feira, 1 de outubro de 2010

TESTE DO CORRESPONDENTE BANCÁRIO EMPERRA


O programa piloto criado pela Caixa Econômica Federal para acelerar o programa Minha Casa, Minha Vida não decolou como o previsto. Iniciado no primeiro semestre, o teste com as construtoras - que ganharam autonomia para assumir boa parte do processo de análise de crédito dos compradores de imóveis - está lento e abaixo das expectativas tanto da instituição, quanto das empresas.
O banco elegeu um grupo de empresas - as principais construtoras do país, entre elas, MRV, Cyrela, Goldfarb, Rossi e Gafisa - que passaram a atuar como "correspondentes bancários" e, assim, puderam ter acesso ao próprio sistema de avaliação de crédito da Caixa. Toda a parte burocrática de unir documentos, checar fundo de garantia, levantar declaração e comprovante de renda - um trabalho feito tradicionalmente nas agências - passa para o correspondente bancário, que faz uma pré-avaliação do crédito do cliente. Tudo on-line.
As metas iniciais previam que a concessão do crédito fosse feita em até sete dias, contra 30 e 40 dias, em média pelo método tradicional, dependendo do cliente - o que ainda não está acontecendo. O programa deveria rodar no Feirão da Caixa, em maio, mas também não foi possível. O piloto foi bem recebido desde o início porque a capacidade operacional da Caixa - ainda que o banco tenha reduzido a burocracia após o programa - sempre foi uma das maiores preocupações das empresas e dos investidores, inclusive estrangeiros, no caso das abertas.
Como em todo teste - principalmente quando envolve integração de sistemas - os problemas apareceram no momento da execução. O motivo é um só: embora as empresas tenham pressa em acelerar o processo e contribuir com a instituição - até por uma questão de fluxo de caixa - o banco manteve as rédeas na análise de crédito. Não pode correr o risco de ter um problema de inadimplência daqui a alguns anos para garantir que se alcance a cifra de 1 milhão de casas previstas na primeira fase do programa.
O efeito imediato é a lentidão dos repasses ou desligamentos - momento no qual o cliente sai da construtora, a Caixa assume o financiamento e a empresa recebe os recursos. "Na aprovação dos projetos, o programa caminha bem, mas emperra nos repasses", afirma um analista do setor de construção civil. "O programa foi muito importante como vetor de crescimento para o setor, mas o gargalo que todos temiam, está se tornando realidade agora."
Para as empresas, o problema maior está no caixa e na falta de capital de giro de algumas delas para dar andamento aos projetos - sobretudo as menores. Muitas companhias estão passando meses com centenas de aprovações pendentes. A própria Caixa admite que há gargalos nessa fase de transição.
No caso do Minha Casa, Minha Vida, o repasse é corresponde a 100% do valor da construção e acontece durante a obra. E, quanto maior o número de mutuários repassados à Caixa , maior o volume de capital recebido. Já no crédito associativo, modelo tradicional de financiamento que possibilita o uso do fundo de garantia - o desligamento acontece após a entrega das chaves e contempla 80% do custo da construção. E esse foi justamente um dos grandes atrativos do programa para companhias de todos os portes - permite exposição de caixa menor e menos capital intensivo para operar.
Há reuniões semanais entre as empresas e a Caixa e as últimas têm sido mais tensas. Empresas que não tinham hábito de trabalhar com a CEF estão atrapalhadas e, muitas vezes, ainda cometem erros. "A caixa está cobrando. Quer volume, quer que dê certo, mas mantém o rigor do processo", diz fonte envolvida no processo.
O projeto é cheio de idas e vindas. Em um determinado momento, as próprias construtoras deixaram de atuar como correspondentes. Para evitar conflitos de interesses - afinal quem apresenta os dados e analisa o crédito é quem se beneficia com o recebimento do dinheiro - as empresas passaram a indicar um terceiro para fazer esse papel. São pequenas assessorias imobiliárias, geralmente empresas do próprio grupo, que recebem o aval da Caixa.
Atualmente, segundo a Caixa informou ao Valor, por e-mail, as empresas puderam voltar a fazer o processo, uma vez que a palavra final é da Caixa. Na Cyrela, duas empresas atuam como correspondentes, a PZM e RCI. Na MRV, além da ACI de Campinas, a própria empresa faz o trabalho.
O Banco Central informou, através de sua assessoria, que a regulamentação em vigor permite a contratação, por parte de instituições financeiras, de empresas para o desempenho das funções de correspondentes. Essas empresas podem receber e encaminhar pedidos de empréstimos e de financiamentos, fazer análise de crédito e cadastro e outros serviços de controle, inclusive processamento de dados. "A contratação está sujeita a uma série de condições, entre elas que a contratação de correspondente deve ser objeto de comunicação ao Banco Central do Brasil e que os os contratos referentes à prestação de serviços de correspondente devem incluir cláusulas prevendo a total responsabilidade da instituição financeira contratante sobre os serviços prestados pelo correspondente e o integral e irrestrito acesso do Banco Central do Brasil, por intermédio da instituição financeira contratante, a todas as informações, dados e documentos relativos ao correspondente".
De maneira geral, as empresas envolvidas dizem que o sistema está se aperfeiçoando e que o nó tende a desatar em breve. O cuidado em citar a Caixa é enorme. "Trata-se de um sistema complexo e trava muito mais por causa das próprias empresas", afirma fonte de uma grande companhia. "Todo mundo se empenha porque é esse o caminho para dar vazão ao volume que já existe e que ainda está para vir", diz o diretor de outra grande.
A questão é mais complicada no caso de clientes com renda informal. Nesse caso, trata-se de um processo mais complexo, que considera parâmetros históricos, renda presumível e movimentação bancária. Nos dois casos, a palavra final é dada pela Caixa.
Para as empresas menores, o atraso no repasse acaba sendo um problema maior porque o fluxo de caixa é naturalmente mais apertado. As margens para quem atua no programa já são mais apertadas. O INCC subiu 6,18% desde o início do ano, enquanto os preços do Minha Casa, Minha Vida estão fixos (são de, no máximo, R$ 130 mil em determinadas capitais). As companhias esperam uma revisão dos valores máximos estipulados pelo programa na segunda fase do Minha Casa, Minha Vida.
Para Caixa, modelo passa por transição
De acordo com o vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, a adoção do modelo de correspondente imobiliário deve reduzir o tempo de repasse dos recursos às empresas, mas, no curto prazo, ele admite que esse é um período de "transição" para o novo sistema que pode apresentar alguns "gargalos". Segundo ele, as dificuldades aparecem tanto nas agências e nos correspondentes, que precisam ser treinados, quanto nos parceiros, que têm de se adaptar ao novo padrão. "Pode ter algum gargalo em uma agência, em determinado momento por causa do fluxo que se acumula. As empresas também precisam se planejar e nós temos feito o trabalho de planejamento junto a elas".
Hereda revela que a maior preocupação era o acumulo de 'desligamentos' (nome dado ao momento em que a pessoa física assume o financiamento e a empresa recebe os recursos). A Caixa estima que possa haver entre 80 mil e 100 mil unidades que serão 'desligadas' até o fim do ano. "Estamos monitorando a demanda nos próximos quatro meses tanto entre as grandes empresas quanto nas pequenas e médias. Há reuniões periódicas com as empresa e mesmo com a Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) para que a Caixa seja informada onde pode haver qualquer problema. Há uma sala de situação em Brasília que checa o desligamento em todo o país. Onde necessário estamos autorizando hora extra e até deslocando pessoal até que o sistema esteja todo desenvolvido."
As empresas também precisam se adaptar, alerta. "Verificamos que as empresas às vezes entregam o processo para o correspondente e não acompanham o andamento. Muitas vezes o processo não está completo e tem de ser devolvido". Mas ele mantém o otimismo. "Quando estiver funcionando, as empresa terão seus correspondentes criando um fluxo mais rápido e vai reduzir bastante prazo de contratação".
Segundo ele, esse é um "processo", que vai levar a um sistema mais eficiente. "Fizemos investimentos desde o início do ano, estabelecemos novas ferramentas tecnológicas e fizemos o treinamento do pessoal interno e externo. O piloto já foi aprovado e iniciamos o projeto em São Paulo. Estamos satisfeitos com o resultado, mas o modelo vai ter de ser implantado de maneira progressiva, como todo processo novo. Não havia pretensão de se resolver tudo de repente".
Quanto ao Banco Central, Hereda diz que a Caixa fez um esclarecimento voluntário ao BC dizendo que o processo de aprovação e avaliação será feito dentro do seu controle. "A Caixa não abre mão da avaliação do imóvel, da avaliação da capacidade de pagamento e da análise de risco. Tudo passa pela conformidade da Caixa".

Fonte: Valor Econômico

Um comentário:

  1. Com este funil imposto pelo sistema da Caixa, alguns correspondentes são descredenciados por não conseguirem atingir a meta, pois o vai e vem dos processos não permite a aprovação final, em média hoje, de 60 dias. No meu entender, este é um prazo até razoavel, tendo em vista que, a maioria dos correspondentes não estão ainda, integrados à rede, bastante lenta, da Caixa.
    A sugestão que deixo aqui, são as maiores dificuldades que vivi como correspondente, e para que outros que vierem tenham sucesso em sua empreitada, é a seguinte:
    a) Maior integração e parceria entre as partes;
    b) Melhorar e muito,a qualidade do treinamento
    ministrado nas agências, aos correspondentes;
    c) Determinar padrões de procedimentos,conforme
    determinação do controle de qualidade da
    documentação;
    d) Elaborar tarefas que formem procedimentos
    de rastreabilidade, com utilização da WEB,
    pois hoje, este sistema ainda é manual, na
    maioria das agências;
    e) Investir pesado em informática, com o
    objetivo de atingir a integração total entre
    agência,superintendência e correspondentes;
    e) E finalmente, aumentar o fluxo de informções
    nesta via de duas mãos, que é a parceria.

    Estas foram as maiores dificuldades vividas por este correspondente.

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