Uma das provas de que o público alvo da reforma não é o
cubano residente na ilha é o preço das moradias: de acordo com números
do site Revolico.com, o preço médio de uma casa em Cuba é US$ 50 mil,
variando entre US$ 6 mil e US$ 180 mil, dependendo da localização e
condições do imóvel. Com um salário médio de US$ 20 por mês, é
impraticável para o cubano remunerado pelo governo local arcar com os
custos de uma residência. No site, também estão à venda automóveis e
computadores, todos a um preço inacessível para o cubano comum.
As regras impostas ao comércio de imóveis esclarecem que
a mudança é cautelosa: ela permite apenas que cidadãos cubanos
(residentes na ilha ou não) ou estrangeiros com residência permanente na
ilha comprem e vendam casas. O limite é de duas moradias por pessoa,
uma na ilha e outra em zona de descanso - medida que impede a acumulação
e especulação imobiliária. A legalização das transações também visa a
reduzir o déficit habitacional de Cuba, hoje estimado em 600 mil
moradias. Além disso, é uma forma de enfrentar outro grave problema: a
precariedade das instalações. Trevisan explica que é comum, em Cuba, as
pessoas casarem e seguirem morando com os pais, alterando a estrutura do
imóvel e dividindo a casa em diversos cômodos. Segundo o professor, o
governo cubano também aumentou o subsídio para reformas nas residências.
Porém, o valor dos empréstimos é alto e, da mesma forma, está fora da
realidade salarial dos cubanos. Dessa forma, tanto a possibilidade de
compra quanto a de reforma de um imóvel é real apenas para o cidadão que
está no exterior.
Inevitável
Para Trevisan, é difícil prever se a abertura econômica
de Cuba vai ser ampliada. Na visão do professor, existe uma má
compreensão do que ocorre na ilha: “Existe um processo controlado de
descompressão da economia, mas não há uma abertura de fato, como a que
acontece, por exemplo, na China”, comenta o professor. Medidas
testemunhadas na economia chinesa - atuação na Bolsa de Valores, entrada
de capital estrangeiro e abertura à iniciativa privada - são fenômenos
ainda distantes da ilha dos Castro. Porém, Trevisan afirma que, mesmo
que de forma cautelosa, o processo de abertura econômica é inevitável:
“A história mostra que o modelo cubano ficou anacrônico. Pode levar mais
tempo ou menos tempo, mas esse é um processo inevitável”. Os números do
governo cubano apontam que o PIB da ilha vem crescendo: a alta foi de
2,8% em 2011 e 2,4% em 2010. A taxa de crescimento, porém, é bem mais
baixa que as registradas em 2006 (12,1%) e 2007 (7,3%).
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