Samy Dana
Sempre existiu no Brasil um impulso a favor da aquisição de imóveis,
relacionado ao sonho da casa própria e à crença de que representam segurança
financeira.
Sabendo disso, instituições saíram no lucro oferecendo crédito imobiliário em
larga escala, com financiamentos caros e prolongados.
A concessão de empréstimos era bastante rigorosa. As instituições
financeiras, preocupadas com a inadimplência, exigiam incontáveis
pré-requisitos para emprestar.
Há pouco mais de dez anos, financiava-se um imóvel de R$ 150 mil com parcelas mensais de R$ 3.300. Hoje, com maior facilidade de crédito e com prazos maiores, parcela-se R$ 425 mil com os mesmos R$ 3.300 por mês.
O mercado atual parece mais vantajoso, mas a realidade é que os preços
dos imóveis subiram, e o lucro, que antes era dos bancos, foi transferido para
as construtoras.
Mesmo com as taxas atuais, financiar um imóvel pode significar pagar mais do que o dobro de seu valor inicial. Um apartamento de R$ 500 mil, quando financiado com entrada de 10% mais 360 parcelas (30 anos) com 0,72% de juros mensais passa a ter o valor final de R$ 1,2 milhão.
Porém, o mercado imobiliário brasileiro tem apresentado desaceleração
nas vendas. Especuladores estão começando a vender seus imóveis nos valores
atuais com medo da queda abrupta de preços.
Ainda há muitos que querem rendimentos maiores e não aceitam vendê-lo a um valor igual ao que pagaram.
Eles sofrerão dificuldades em breve. Mesmo aos olhos do consumidor que busca o imóvel próprio, já não é tão atraente adquiri-lo aos preços atuais.Com uma taxa de aluguel próxima a 0,3%, tem valido mais a pena deixar o dinheiro na poupança -que paga 0,4%- do que comprar um apartamento.
Os valores estão quase
batendo no teto, e depois dele vem o abismo. Quem estiver pronto poderá salvar
um pouco de capital para aplicar em outras formas de investimento no futuro, mas os mais teimosos e gananciosos enfrentarão, em breve, um longo e tenebroso inverno financeiro.
Autor: Samy Dana / Ph.D em business e professor da Fundação Getulio Vargas
Fonte: Folha de S. Paulo
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