O Cadastro Técnico Multifinalitário pode ser entendido como um sistema de registro dos elementos espaciais que representam a estrutura urbana, constituído por uma componente geométrica e outra descritiva que lhe conferem agilidade e diversidade no fornecimento de dados para atender diferentes funções, inclusive a de planejamento urbano (BLACHUT et al, 1974).
Segundo Blachut et al (1980), o cadastro urbano possui três funções básicas:
- função fiscal, que se refere à identificação dos bens imóveis e de seus proprietários com a finalidade de regulamentar o recolhimento de impostos;
- função jurídica, que se refere à determinação dos direitos de propriedade;
- função de planejamento que, segundo os autores, “está deslocando-se rapidamente para o ponto central das operações cadastrais, e como resultado disso o cadastro está adquirindo uma certa característica multifinalitária” (BLACHUT et al, 1980).
Em outras palavras, o CTM é uma base cartográfica e alfanumérica que
descreve o sistema urbano (e rural) através das suas unidades
imobiliárias, especialmente as parcelas e edificações, mas também com os
eixos de logradouros.
Fig. 1 – O cadastro integra informações gráficas (cartográficas) a informações alfanuméricas (uso do solo, proprietário, número de pavimentos, etc.) em um mesmo sistema (SABOYA, 2000).
Dessa forma, o CTM torna-se uma base sobre a qual podem ser
construídas diversas bases temáticas, tais como o cadastro tributário, a
base de dados do sistema de saúde, o cadastro de áreas verdes e
públicas, e assim por diante.
O maior apelo, atualmente, para a construção do cadastro é a
atualização da base de contribuintes do IPTU, o que pode gerar aumento
na arrecadação do imposto. Seus defensores argumentam que o custo para a
implementação e atualização do cadastro (que não é pequeno) pode ser
recuperado em poucos anos apenas com o acréscimo na arrecadação do IPTU.
O CTM deve integrar e compatibilizar a definição dos limites físicos da propriedade com os limites legais.
Idealmente, além disso, o CTM deve integrar e compatibilizar os dados
da prefeitura com o registro de imóveis, de forma a identificar, de
maneira clara, quais são os reais limites das propriedades imobiliárias e
quem são os proprietários. Para isso, deve identificar os pontos dos
limites com coordenadas geográficas
precisas. Isso significaria o fim de muitas disputas judiciais sobre os
limites das propriedades causadas por invasões de terras e também as
incertezas advindas das descrições atuais, em grande parte baseadas em
referências que mais parecem piadas (algo como “da curva do Rio X até
200m depois do bar do seu Zé”).
Isso, entretanto, ainda parece ser um sonho distante da realidade
brasileira, apesar da crescente procura e interesse pelo CTM, que tem
sido implementado em muitos municípios brasileiros mas apenas com fins
tributários.
Funções e objetivos do CTM
Loch (2005) cita uma série de objetivos do cadastro multifinalitário, que podem ser sintetizados da seguinte maneira:
- coletar e armazenar informações descritivas do espaço urbano, mantendo-as atualizadas;
- implementar e manter atualizado o sistema cartográfico;
- fornecer informações aos processos de tomada de decisões inerentes ao planejamento e à gestão urbanos;
- tornar mais confiáveis as transações imobiliárias através de uma definição precisa da propriedade imobiliária; e
- disponibilizar essas informações para os órgãos públicos e para a sociedade em geral.
No que diz respeito mais especificamente ao planejamento urbano, o
CTM pode ser considerado um modelo descritivo do espaço urbano. Modelos
descritivos, como o próprio nome diz, são representações simplificadas
de uma determinada realidade com vistas a descrevê-la para que seja
possível manipulá-la. Eles são necessários, por exemplo, para a
construção de modelos explanatórios (ou teorias) sobre os sistemas
urbanos.
Portanto, o CTM, se bem estruturado, pode ser uma base fundamental
para o planejamento urbano. Mas isso é assunto para o próximo post.
A estrutura de um CTM
O Cadastro é composto por várias camadas de informações,
representadas de forma cartográfica, associadas a tabelas de dados
alfanuméricos que possuem vinculação aos dados espaciais. Como a Figura 1
mostrou acima, essas tabelas podem ter os mais variados atributos para
os elementos gráficos, tais como proprietário, uso do solo, número de
pavimentos, área construída, zoneamento no qual está inserido, presença
de áreas alagáveis, e assim por diante. Cada linha de uma tabela é
chamada de registro, e refere-se a um elemento espacial na base
cartográfica.
Esse conjunto de dados de naturezas diversas é gerenciado por um Sistema de Informações Geográficas, ou SIG.
Fig. 2 – O CTM é composto por várias camadas de informação, assim como por tabelas de dados alfanuméricos vinculadas a elas, gerenciadas por um Sistema de Informações Geográficas (SIG). Fonte da Imagem: aqui.
Fig. 3 – Imagem da base cadastral de Florianópolis (Centrinho da Lagoa) disponível em http://geo.pmf.sc.gov.br/geo_fpolis/index3.php.
Fig. 4 – Imagem da base cadastral de Balneário Camboriú – SC disponível em http://geo.camboriu.sc.gov.br/balneariocamboriu_internet/home.asp
Referências bibliográficas
BLACHUT, T. et al. Cadastre as a basis of a general land inventory of the country. In: Cadastre: various functions characteristics techniques and the planning of land record system. Canada: National Council, 1974.
BLACHUT, T; CHRZANOWSKI, A; SAASTAMOINEN, J. Cartografía e levantamientos urbanos. México: Dirección general de Geografia del Territorio Nacional, 1980.
LOCH, Carlos. Cadastro técnico multifinalitário: instrumento de
política fiscal e urbana. In: ERBA, Diego Alfonso; OLIVEIRA, Fabrício
Leal; LIMA JUNIOR, Pedro (org.) Cadastro multifinalitário como instrumento de política fiscal e urbana. Rio de Janeiro: 2005. p. 71 – 99.
SABOYA, Renato. Análises espaciais em planejamento urbano: novas tendências. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 3, p. 61 -79, 2000.
Fonte: Renato Saboya
Nota do Editor:
CADASTRO TÉCNICO IMOBILIÁRIO |
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O Cadastro Técnico Imobiliário Multifinalitário é a base necessária
para um bom planejamento urbano, além de alimentar a base de cadastro
fiscal para os tributos imobiliários (IPTU, ITBI, TLF, Taxa de Coleta,
etc.), portanto, de suma importância para
produzir a base cartográfica e de informações
cadastrais dos imóveis e logradouros das áreas urbanas do Município
(sede, distritos e povoados), evidenciando a propriedade imobiliária,
suas características físicas, o seu uso, infra-estrutura e serviços existentes nos mesmos.
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