Ilustração: Aziz
Nestes cinquenta anos de profissão regulamentada, desde 1962, quando a lei 4.116 estabeleceu os primeiros parâmetros éticos para a atuação da categoria, o Corretor de Imóveis avançou, contribuindo para a descoberta de singularidades que melhor sustentam suas relações profissionais e o reconfiguram como um ente operador de mudanças numa evolução por demais surpreendente.
Antes desta evolução, perceptível a todos, o sistema que envolvia a atividade da corretagem imobiliária, era pré-fixado por um estilo, um determinado caminho a ser trilhado na estrita observância de regras rígidas, princípios e axiomas pré-estabelecidos produzindo operações de resultados determináveis.
Hoje, o Corretor de Imóveis, revela-se um profissional complexo e bem menos previsível, no sentido de que determinado estímulo desencadeia um específico estado de ação, integrando todas as áreas do conhecimento que o expõe a processos interativos que independem de qualquer tipo de controle e/ou centralização e o faz guiar-se a si próprio.
O Corretor de Imóveis reconfigurado é de fato um elemento controlador, embora permanentemente controlado pelo ambiente mercadológico que determina as regras e sua particular e peculiar estrutura regula suas operações. As regras identificam o ambiente, a estrutura, modalidade de um sistema, nos mostra como os subsistemas interagem para que este ambiente funcione, numa mutação constante, em um dinamismo crescente de altíssima volatibilidade, por vezes alterando sua estrutura para adaptar-se às modificações do ambiente sem a perda da organização e sem a desarticulação dos seus essenciais elementos.
O ambiente “Mercado Imobiliário” é o real orientador do Corretor de Imóveis, nele estão contidas regras tácitas, porém, que valem apenas enquanto a evolução não as substituir.
Esta assertiva me remete à palavra “cibernética”, que vem do grego, onde sua raiz significa “timoneiro”.
Interpreto portanto, o mercado imobiliário de hoje, como um grande circuito cibernético, onde, por vezes, há desequilíbrios e períodos de estabilização, havendo regular realimentação de ações positivas e negativas até atingir-se um estágio de homeostase.
O Corretor de Imóveis Reconfigurado é o único responsável, dado seu estágio de constante evolução, por promover mudanças de ordem técnica, ideológica e social, que bem podem ser mensuradas se analisarmos o perfil do “velho” Corretor. Num mundo mecânico não pode haver nada novo que não tenha já existido antes e este é um dos inúmeros parâmetros para comparação aliado às tecnologias que se multiplicam e se refinam para adequar-se a um mercado imobiliário de estrutura complexa e na maioria das vezes em total desequilíbrio, tornando-o real, apenas como princípio filosófico, mas não ideal.
È neste sistema técnico por excelência, neste mundo globalizado onde a informação permeia todas as esferas do conhecimento, que o Corretor de Imóveis contemporâneo obrigou-se a incorporar fenômenos de desequilíbrio, de instabilidade, de improbabilidade, da não linearidade, da não casualidade, para transmutar-se num ser pessoal e profissional diferente.
O Corretor de Imóveis Reconfigurado tem que cultivar uma visão revolucionária, transformar-se frente aos desafios da interatividade e estas mudanças não ocorrem de forma casual ou adaptativa, mas de forma estrutural como que se “apagando” a existência daquele velho Corretor de Imóveis.
- A questão é: Sob quais pontos de vista ele faz isto?
As causas e efeitos dessas mudanças advêm do conhecimento e do interesse do próprio Corretor de Imóveis, no sentido literal de se reinventar, se autocriar e da relação sistema-ambiente onde todas as diferenças são ativadas.
As flutuações típicas do mercado imobiliário e as eventuais crises constitutivas são elementos mais que favoráveis à evolução profissional.
Em tempos idos, o Corretor de Imóveis tinha um comportamento linear e causal e sempre desconsiderou os efeitos da interatividade. Hoje, do ponto de vista cibernético, o novo Corretor de Imóveis pode dispor de um ambiente autoproduzido em circuitos reguladores como psicologia, engenharia, economia, política, direito, marketing, estatística, etc.
Dispor de um ambiente autoproduzido é simplesmente decompô-lo em subsistemas. Assim, o sistema “mercado imobiliário” é um ambiente para a formação de subsistemas próprios e o Corretor de Imóveis Reconfigurado consegue melhor operar estes vários subsistemas ao mesmo tempo tornando-se capaz de acelerar sua capacidade de interpretação e/ou decisão já que o ambiente sofre significativa redução de complexidade pelos vários “filtros” representados pelos seus subsistemas.
Neste processo de aperfeiçoamento, hoje vertiginoso, o Sistema COFECI-CRECI tem um papel preponderante, não apenas como um mero agente virtual ou como elemento apenas fiscalizador, mas como um ente verdadeiramente indutor, responsável pela internacionalização das relações imobiliárias a partir do Brasil, hoje, modelo organizacional para o mundo e pelas parcerias com instituições como a NAR, Cimlop (países de língua portuguesa), Icrea (bloco que representa diversos países), Apemip (Portugal), Cimech (Mercosul), Ampi (Associação Mexicana de Profissionais Imobiliários) entre outras. Essas parcerias têm proporcionado interlocutores aos profissionais e empresas brasileiros em diversos países, amplificando as reais potencialidades do Corretor de Imóveis, tornando-se, sem dúvida, um dos fatores de sucesso desta nova visão, interna e externa do Corretor de Imóveis Reconfigurado e embora ainda hajam lacunas a serem preenchidas, a categoria está num estágio mais que crescente estimulada pelas transformações que se evidenciam no ambiente e na própria consciência profissional.
O espaço em que trafega o Corretor de Imóveis Reconfigurado, não é um território geográfico nem pertence às instituições, é um espaço invisível de conhecimentos técnicos, do domínio de várias áreas do saber e do contínuo aprimoramento das qualidades do ser.
Estas importantes e inevitáveis mudanças que ocorreram nestes cinquenta anos, foram responsáveis pela inclusão definitiva do Corretor de Imóveis no sistema social e aumentaram sobremaneira a percepção do profissional quanto a sua real necessidade de evolução, aqui concebida como elevação da complexidade social, onde os valores legitimadores do Sistema não se encontram propriamente nas suas leis, decretos, resoluções e atos normativos, mas sim no processo de reconfiguração a que foi e continuará sendo submetida toda a categoria dentro da circularidade da intervenção sistêmica. O Corretor de Imóveis Reconfigurado passa a ser um observador profissional que não se concentra em saber de uma vez e para sempre, mas em para sempre aprender.
A evolução torna-se possível porque as características do Sistema têm que ser renovadas de momento para momento e é este processo evolutivo que faz a dimensão do tempo transformar-se em mera contingência e oportuniza à educação continuada aliada aos novos códigos culturais encarregar-se de mobilizar as competências, já identificadas e reconhecidas em toda sua diversidade, que garantirão ao Corretor de Imóveis Reconfigurado a essência de sua existência autônoma. Na era do conhecimento e das transformações temos que nos comportar em constante estado de mudança e sempre otimizarmos nossa criatividade para construirmos, a cada novo dia, uma nova imagem! A imagem do Corretor de Imóveis vencedor!
Prof. Marcos Mascarenhas
Gestor Imobiliário, Pós Graduado em Docência do Ensino Superior, Analista de preços de bens imóveis, Gestor de Projetos, Sistemas Construtivos e Planejamento Urbano, Diretor da ATTRIUM Ltda., Professor universitário e Palestrante