O volume de crédito imobiliário do mês de abril apresentou um recuo de 62% em relação a igual mês do ano passado. Seguindo a linha de queda, a quantidade de imóveis financiados atingiu uma redução de 67,7% na mesma base de comparação.
Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), o montante financiado em abril, com recursos das cadernetas de poupança do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), ficou em R$ 3,5 bilhões, uma redução de 62% em relação a abril de 2015 (R$ 9,2 bilhões) e de 20,5% em relação ao mês anterior (quando houve recuperação do setor, indo de R$ 3,2 bilhões em fevereiro para R$ 4,4 bilhões em março).
De acordo com Gilberto Duarte de Abreu, presidente da associação, os números “traduzem uma realidade de crise” e se dá por uma “combinação complexa de fatores”, corroborada pelas altas taxas de juros do setor.
“O ciclo começa com os níveis de confiança do consumidor caindo muito, com as pessoas ganhando menos dinheiro e o consequente adiamento da compra de um imóvel. Além disso, há o fato de o crédito imobiliário ser uma dívida de longo prazo que, no atual cenário, depende das altas taxas de juros”, identifica o executivo. Ainda de acordo com o relatório da Abecip, no mês de abril, cerca de 14,4 mil imóveis foram financiados nas modalidades de aquisição e construção. O número representa uma queda de 26,6% em relação ao observado em março (19,6 mil imóveis) e um recuo de 67,7% em relação a igual mês do ano passado (44,6 mil imóveis).
Os especialistas ouvidos pelo DCI afirmam que a falta de confiança do consumidor está diretamente relacionada à queda de imóveis financiados, uma vez que, com a queda da demanda, há uma quantidade ainda maior de estoque e menor necessidade de produção.
“Estamos passando por um momento onde todo o setor de financiamentos está sofrendo o impacto da crise. Vemos empreendimentos, feitos com contratos de compra e venda, com cerca de 40% das unidades devolvidas pelo difícil acesso ao crédito imobiliário e tendo que conceder descontos para liquidar esses imóveis. Então, seja pela maior seletividade para empréstimos ou pela própria dificuldade no pagamento de parcelas do financiamento, chegando à inadimplência, o crédito imobiliário seguiu uma forte tendência de retração”, explica Eduardo Tambellini, sócio da consultoria GoOn.
Saldos de Crédito
Com as altas taxas de juros e em detrimento da captação líquida negativa na poupança, com saques nas cadernetas superando os depósitos em R$ 6,3 bilhões, o cenário atingiu um “patamar de conforto” para bancos que operam pelo Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI), que se utiliza de fundos provenientes dos investimentos de pessoas físicas.
Para Marco Túlio Guimarães, diretor comercial do Banco Intermedium, apesar da maior seletividade bancária e dos níveis de inadimplência, o cenário tende a melhorar.
“Com a queda da poupança, os bancos grandes que participam do SFH [Sistema Financeiro de Habitação] reduziram o crédito concedido, o que acabou por deixar mais clientes para o mercado que atua com o SFI. Além disso, com a alienação fiduciária [quando o imóvel, para garantia de quitação da dívida, passa a ser propriedade do credor] funcionando bem no Brasil, os clientes têm optado por deixar a dívida do imóvel prioritária. É algo que, mesmo sentindo a inadimplência, nos deixa confortáveis com o crédito”, afirma o executivo do banco.
Apesar das taxas de juros do SFH alcançarem uma média próxima a 12% ao ano e das maiores provisões por conta de possíveis calotes, no entanto, os cinco principais bancos do País (Banco do Brasil [BB], Bradesco, Caixa, Itaú e Santander) mostraram aumentos significativos no saldo de crédito imobiliário do primeiro trimestre deste ano.
A maior alta ficou por conta do BB, que atingiu R$ 50,3 bilhões em março de 2016, subindo 22,6% em 12 meses. Em seguida, no mesmo período de comparação, vieram os bancos Bradesco (R$ 50,4 bilhões, +17,1%), Santander (R$ 26,5 bilhões, +16,6%), Itaú (R$ 46,3 bilhões, +14,3%) e Caixa (R$ 388,9 bilhões, +9,8%).
Fonte: DCI – FINANÇAS
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