sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

MÃO DE OBRA E INSUMOS EM ALTA DERRUBAM RENTABILIDADE DA CONSTRUÇÃO CIVIL


A rentabilidade das incorporadoras imobiliárias de capital aberto despencou nos últimos quatro anos e o cenário adverso pode adiar um novo ciclo de investimentos no setor. A mão de obra e os insumos mais caros, além do crescente estoque de imóveis empurrou para baixo os indicadores que medem a eficiência dessas empresas e sua capacidade de dar retorno aos acionistas.

De acordo com um estudo do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), entre dezembro de 2010 e setembro de 2014, o retorno sobre patrimônio (ROE) das companhias de construção civil caiu drasticamente, com a média das rentabilidades passando de 15,4%, em 2010, para 0,4% em 2014. O ROE indica quanto a empresa conseguiu extrair de lucro em relação ao que foi investido no negócio. O levantamento inclui informações de 12 das principais companhias de construção civil com ações negociadas na Bovespa: Brookfield, CR2, Cyrela, Even, Eztec, Gafisa, JHSF, MRV, PDG, Rodobens, Rossi e Tecnisa.

"Percebemos uma queda considerável nesse indicador apesar de a receita estar crescendo na maioria das empresas", diz Eric Barreto, professor do Insper e coordenador do estudo feito com pós-graduandos. Para cada R$ 1 em ativos, o retorno médio em receita líquida foi de R$ 0,29, em 2014, e de R$ 0,48 em 2010.

Segundo Barreto, a conjuntura atual deve prejudicar ainda mais o setor. O próprio Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) já alertou que o cenário negativo pode adiar para 2016 o início de um novo ciclo de investimentos.

Além da dificuldade no giro do capital, o estudo também identificou redução na margem operacional - índice que mede a eficiência das vendas de uma empresa e o quanto ela consegue convertê-las em lucro. Houve queda na margem em nove das 12 companhias investigadas. "Isso ocorreu porque os custos aumentaram num ritmo maior do que as receitas", diz Barreto.

Mão de obra

Mesmo com a desaceleração do mercado imobiliário, os gastos com mão de obra seguem com aumentos acima da inflação. O Índice Nacional da Construção Civil medido pelo IBGE foi de 7,74% em 2014, enquanto a inflação (IPCA) no mesmo período ficou em 6,41%. Outro indicador que mede o custo do trabalho na construção civil, apurado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), mostra que a mão de obra ficou 8,49% mais cara dentro do Índice Geral de Preços (IGP-DI. "Como o setor está desaquecido, isso reduz a perspectiva de aumentos consideráveis na mão de obra nos próximos meses", prevê André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV).

Com tantos desafios, as decisões sobre novos empreendimentos podem ser postergadas para 2016. "Estamos no olho do furacão, em meio a uma onda de pessimismo e ajustes. Ninguém investe, as famílias postergam, os empresários também. A taxa de juros e a incerteza são as maiores inimigas do investimento", avalia o vice-presidente de Economia do SindusCon-SP, Eduardo Zaidan. O Índice de Confiança da Construção (ICST), apurado pela FGV, recuou 6,1% neste mês em relação a dezembro, para 90,8 pontos, o menor nível da série histórica iniciada em julho de 2010.

Fonte: DCI

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