A maior entidade do setor imobiliário da Bahia trocará de comando esta semana. Após oito anos sob a batuta de Nilson Sarti, engenheiro civil e diretor de Akasa Incorporadora, a Associação das Empresas Dirigentes do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi-Bahia) ficará sob responsabilidade de Luciano Muricy Fontes, a partir da próxima sexta-feira (28), pelos próximos dois anos.
Formado em Engenharia Civil há 30 anos, Fontes assume a presidência após anos difíceis onde houve redução no número de lançamentos de novos empreendimentos. Para 2014, ele estima o lançamento de 6 mil novas unidades. Em 2013, foram 3,3 mil.
Apostando na recuperação do setor, ele acredita que - ao contrário das especulações - não haverá uma queda no valor dos imóveis após a Copa do Mundo. “Devido ao pequeno número de unidades novas lançadas no mercado nos últimos dois anos, o número de unidades ofertadas diminuiu consideravelmente, sendo que, em alguns bairros, praticamente já não há unidades à venda e isso vai pressionar os preços para cima. É a lei da oferta e procura”, aposta.
Graduado pela Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia, Luciano tem especialização em Gestão Empresarial e já participou da construção de mais de 5 mil unidades habitacionais. O engenheiro já atua há 25 anos no mercado imobiliário da Bahia e já participou de grandes obras de infraestrutura, como saneamento e barragens.
Casado há 28 anos, Luciano tem dois filhos, também engenheiros. Diretor da Metrus Empreendimentos Ltda. desde a sua fundação, em 1996, Muricy já participa da diretoria da Ademi-Bahia há dez anos. Atualmente, é o 1º vice-presidente e já foi diretor técnico.
O senhor assume a Ademi- Bahia após uma longa gestão de Nilson Sarti (2010-2014). Quais os pontos da gestão dele que pretende manter?
A gestão que ora se encerra foi marcada por dois temas: a Sustentabilidade e a Interiorização da atuação da Ademi-BA. Dada à importância de ambos, vão continuar ocupando posição de destaque em minha gestão.
Quais ações pretende fazer diferente na sua gestão?
Não se trata de fazer diferente. Nosso setor é muito dinâmico e as demandas são diferentes a cada ciclo. Tenho vivenciado isso ao longo do tempo de atuação na entidade. Agora mesmo estamos vivendo o início da elaboração de um novo PDDU pela Prefeitura de Salvador e é papel da entidade colaborar nesse processo de forma proativa em face da experiência que detêm seus associados, então estaremos prontos para desempenhar este papel.
Nos últimos anos, os empresários de Salvador têm reclamado da insegurança jurídica, o que impactou diretamente na quantidade de lançamentos de novos empreendimentos. Como isso pode ser resolvido?
Realmente, vivemos momentos difíceis devido à judicialização de Lous e PDDU desde 2012. A solução passa exatamente pela construção de um novo PDDU com a participação de todos os entes da sociedade. E devemos debater qual cidade queremos para nós, nossos filhos e netos. Penso que temos muito a avançar. Salvador, ao longo do tempo, veio perdendo importância no cenário nacional, seja economicamente e até mesmo culturalmente. Não é mais possível que locais belíssimos de nossa capital estejam ocupados por ruínas e subutilizados, enquanto a cidade carece de novas áreas para sua expansão. Sempre nos destacamos pela ousadia e temos arquitetos mundialmente reconhecidos, capazes de pensar uma cidade moderna, sem perder o seu charme inconfundível.
O mercado de Salvador passou por um boom nos últimos anos e em 2013 estabilizou. Como acredita que será 2014?
Os lançamentos voltam a acontecer conforme já falei antes e, consequentemente, este ano haverá um maior número de unidades vendidas, cerca de 10% a mais do que no ano passado.
Especula-se que, após a Copa do Mundo, haverá uma queda no valor dos imóveis em função da grande quantidade de empreendimentos que ficarão prontos no segundo semestre. Esse é o comportamento esperado?
Categoricamente não. Nossa cidade tem um preço baixo de metro quadrado na venda de imóveis. Para se ter uma ideia, o índice Fipe-ZAP, que monitora o preço de imóveis em 16 cidades no Brasil, aponta Salvador na 13ª posição. Por outro lado, nossos custos de construção são dos mais caros do país, devido ao baixo índice de produtividade de nossa mão de obra, o que leva à conclusão óbvia de que as margens de lucro em nosso mercado são muito pequenas. Portanto, não há a menor possibilidade de queda nos preços. Ao contrário, devido ao pequeno número de unidades novas lançadas no mercado nos últimos dois anos, o número de unidades ofertadas diminuiu consideravelmente, sendo que, em alguns bairros, praticamente já não há unidades à venda e isso vai pressionar os preços para cima. É a lei da oferta e procura.
Qual a previsão de novos lançamentos para o ano de 2014 e em 2015 em Salvador? E na Bahia?
O mercado começa a se recuperar depois de dois anos de quase paralisia. Acredito que em 2014 teremos pouco mais de 6 mil novas unidades lançadas e, no ano seguinte, 20% a mais.
Ano passado, o Salão de Negócios Imobiliários da Ademi, uma das mais importantes do estado, não foi realizado pelo número baixo de lançamentos. Este ano vai acontecer? Quando? Com quantos imóveis à venda?
Realmente, o ambiente de negócios em nossa cidade não permitiu a realização do Salão no ano passado. Estamos monitorando o mercado e verificando a possibilidade de que aconteça este ano. Faremos todos os esforços para tal, pois, inegavelmente, o salão é um evento da maior importância para o mercado.
Hoje em Salvador há poucos terrenos para construção de unidades habitacionais de chamado interesse social e para o programa Minha Casa Minha Vida (MCMV)? Como isso pode ser solucionado? Qual a alternativa para viabilizar?
A solução sem qualquer dúvida é o investimento dos poderes públicos em infraestrutura. A urbanização de áreas hoje carentes é que possibilitará a viabilidade da construção de unidades do MCMV em Salvador em maior número. Na situação atual, a maioria dos terrenos que dispõem
de infraestrutura tem valor incompatível com o programa.
É por esse motivo que a maioria dos empreendimentos do MCMV está indo para a Região Metropolitana?
Exatamente por este motivo. Nessa região há disponibilidade de áreas com valor compatível com o MCMV.
Qual o déficit habitacional na Bahia atualmente? Em quanto tempo?
Estima-se em 600 mil unidades residenciais o déficit, sendo que mais de 90% são de imóveis de interesse social, e somente será resolvido com subsídios, como os concedidos pelo MCMV. Penso que este programa deveria ter um caráter duradouro e não apenas ser um programa de governo. Nesse sentido, há um projeto de lei tramitando no Congresso que assegura recursos do orçamento da União à construção de moradias para a população de baixa renda. Seria bom que fosse aprovada.
Qual o melhor de se investir na Bahia?
Sem dúvida, os preços atuais que estão convidativos. É o momento para investimento pois os preços não vão ficar nesse patamar por muito tempo.
Qual o pior de se investir na Bahia?
A insegurança jurídica. Isso prejudica o ambiente de negócios e afugenta o investidor. Salvador tem poucos terrenos para novos projetos de grande porte.
Qual a alternativa do mercado para resolver essa situação? Há outros vetores de crescimento?
Somente o investimento público em infraestrutura pode resolver essa questão. Mobilidade, saneamento, energia elétrica chegando a regiões carentes farão com que a ocupação da cidade caminhe na direção da BR-324 e subúrbio ferroviário, por exemplo, onde existem áreas disponíveis.
Qual tipo de empreendimento tem mais espaço em Salvador: alto padrão ou popular?
Temos demanda para todos os tipos de empreendimentos.
Dentro de Salvador, quais as regiões que devem receber novos projetos?
No curto prazo, a Paralela é a que tem o maior estoque de terrenos vazios. Mas,
com a definição do novo PDDU, espero que novas áreas como a orla atlântica sejam destino de novos empreendimentos.
Grandes obras de mobilidade que estão sendo desenvolvidas podem criar novos vetores de crescimento imobiliário em Salvador e também valorizar os imóveis já construídos?
Com certeza, a qualidade de vida gerada com essas obras valoriza os imóveis de uma região e cria vetores de crescimento.
Como você avalia a qualidade de mão de obra na Bahia? Isso realmente impacta na produção?
A produtividade de nossa mão de obra é muito baixa e a categoria tem salários acima da média nacional, o que impacta negativamente nos custos de produção. A equação perversa se completa com os baixos preços de venda. Penso que, cada vez mais, as empresas devem investir na racionalização de seus processos construtivos e na capacitação de seus funcionários, de modo a minimizar esse impacto.
Muitos empreendedores reclamam da dificuldade de comprar materiais, produtos tecnológicos e até elevadores. Isso tem sido colocado por muitas empresas como o fator principal para o atraso de obras. Como o setor pode resolver isso?
Realmente, o aumento expressivo do número de unidades em construção pegou a cadeia produtiva despreparada, e provocou atraso em várias obras por problemas com suprimentos, mas, ao longo do tempo, isso foi sendo superado com a ampliação do parque industrial e penso que isso já foi superado.
Quantos associados existem hoje na Ademi-Bahia? Há intenção de se expandir para o interior?
Temos hoje cerca de 180 associados, dentre eles alguns de Feira de Santana, Vitória da Conquista, cidades da Região Metropolitana. É nossa intenção consolidar a atuação da entidade nesses locais e expandi-la para outros polos de igual importância como Ilhéus, Itabuna, Barreiras, Luis Eduardo, onde o mercado imobiliário já se apresenta pujante.
Fonte: CORREIO