terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

CUSTOS NO MERCADO IMOBILIÁRIO DO BRASIL GERA TEMORES PARA A ECONOMIA

 
Uma série de economistas, incluindo Robert Shiller, ganhador do Nobel, professor da Universidade de Yale, têm alertado sobre uma bolha imobiliária no Brasil que pode influenciar diretamente na economia da América Latina, onde os preços das casas triplicaram desde 2008, refletindo no custo dos aluguéis. "As coisas não mudaram tão de repente para que o Brasil justifique um aumento dos preços significativo", disse Shiller, acrescentando que durante uma viagem ao Brasil no ano passado, se sentiu como se estivesse nos EUA, em 2005. A reportagem saiu no sábado (15/2), no Financial Times.

Desde janeiro de 2008, os preços em São Paulo e no Rio de Janeiro subiram 197% e 243%, respectivamente, segundo a Fipe-Zap, o índice de habitação principal do país. "De acordo com nossos dados, os preços aqui subiram mais rápido do que durante a bolha imobiliária dos EUA", disse ao jornal Eduardo Zylberstajn, um dos fundadores do índice. Poucos ainda estão prevendo que o mercado brasileiro deve sofrer um acidente de 'full-blown' como os EUA - "onde os preços reais das casas subiram muito antes de cair em mais de 40% em todo o país".

No entanto, qualquer declínio no mercado imobiliário num estado de perigo com a economia já frágil no país, que é excessivamente dependente do consumo, pode já ter entrado em recessão técnica, dizem os analistas. Neil Shearing, economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, estima que o mercado de imóveis residenciais no Brasil pode ser sobrevalorizado em até 50%. Mas ele também admite que esses cálculos no Brasil são "mais uma arte do que uma ciência". O índice Fipe-Zap, por exemplo, remonta apenas seis anos e, inicialmente, apenas analisa São Paulo e Rio de Janeiro, o que torna quase impossível estimar o valor justo de uma propriedade.

Shearing admite que "há muitas razões pelas quais os preços subiram". Surto de crescimento no Brasil ao longo da última década, impulsionou os salários, com o produto interno bruto nominal per capita subindo cerca de 50% desde 2008. Taxas relativamente baixas de juros e maior concorrência no setor bancário também têm impulsionado os custos de empréstimos, permitindo que milhões de brasileiros obtenham uma hipoteca pela primeira vez. Outro fator foi a introdução pelo governo em 2009, de um programa de hipoteca subsidiado para famílias de baixa renda.

Até o final do ano passado, o financiamento imobiliário total havia aumentado para R$ 395bn, o equivalente a 8,2% do PIB, acima dos 6,8% em 2012, segundo dados do Banco Central. Enquanto as taxas de juros devem aumentar nos próximos meses, os bancos estatais estão sob pressão do governo para manter os empréstimos com taxas baixas,para estimular a economia. Parte do problema vem do grande número de propriedades compradas em 'lançamentos', especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Investidores colocam o depósito mínimo para comprar um apartamento, antes do imóvel ser construído, e, em seguida, vende a propriedade por um lucro rápido quando é concluído alguns anos mais tarde.

Enquanto Shearing diz que o "grau dos aumentos de preços dos imóveis ainda parece difícil de justificar", outros são mais otimistas sobre os riscos. Mauro Peixoto de Oliveira, assessor de Embraesp, uma consultoria de imóveis, diz que pela natureza conservadora do sistema bancário do país, o risco de uma bolha imobiliária generalizada é baixo. "No mercado residencial do Brasil há mais elasticidade - os preços já começaram a estagnar em algumas regiões de São Paulo", diz ele. No entanto, ele acredita que "bolhas localizadas" existem, especialmente no mercado imobiliário comercial.

Em 2010, quando a economia estava se expandindo em 7,5% ao ano, a escassez de espaço nos escritórios em cidades como São Paulo, levou à empresas de construção pelanejar uma enxurrada de novos edifícios comerciais. Porém, a burocracia no Brasil e escassez de trabalhadores qualificados na construção fez com que muitos desses edifícios só fossem concluídos agora - assim como o crescimento econômico dá espaço a um impasse.
 
Fonte: Jornal do Brasil

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