quarta-feira, 7 de outubro de 2020

2020, o ano da mutação da indústria imobiliária global


Já há cerca de seis meses que o assunto recorrente é a pandemia global que se atravessa. Sinal nítido que toda a humanidade está preocupada e tenta adaptar-se a novos costumes e alterações de hábitos por questões de saúde pública.

Tal como o resto do mundo, a indústria imobiliária global mostra já sinais nítidos de alterações e adaptações aos seus formatos tradicionais, seja na construção, mediação, gestão ou qualquer outra especialidade imobiliária. Será o ano de 2020, ano da mutação da indústria imobiliária global?

Soluções tecnológicas para empresas

Essa adaptação é catapultada pelas novas tecnologias do imobiliário, ou PropTechs, e as empresas que se dedicam exclusivamente a esta vertente, a criação de soluções tecnológicas para a indústria imobiliária, encontram-se hoje num dos períodos mais vibrantes das últimas décadas. Um mar de novas tendências e hábitos dos consumidores abre muitas janelas de oportunidade. A análise profunda desta complexa alteração e a identificação dos pontos mais importantes a disponibilizar aos consumidores é a chave para obter novos produtos e ideias de sucesso.

Existe igualmente o contrário, como o caso de uma PropTech que apresentou em Nova York, no Mipim PropTech 2019, uma solução inovadora e que tinha dezenas de vantagens para os utilizadores. Já se antevia um investimento alto por parte de alguns fundos dedicados a financiar estas PropTechs e apenas se discutiam pormenores em relação à produção em escala. Tratavam-se de fechaduras de portas com leitores digitais para uso residencial e comercial. Hoje em dia seria descabido vender este tipo de solução pelo simples facto de existir uma hipótese de contágio elevada sempre que se abria uma porta. A leitura que se discute hoje em dia seria um scan da retina ocular ou leitura de dados biométricos que permitam não existir contacto com as superfícies. Tal como todos, também as PropTechs se estão a adaptar aos novos desafios.

O exemplo da mediação imobiliária

Outro ramo do imobiliário sobre o qual pertinentemente muito se fala é o da mediação imobiliária. Entre vários artigos que tenho lido, e conversas com profissionais da mediação, creio que já não existe a utopia de que para atingir resultados acima da média, o mediador e os seus agentes não necessitam de recorrer a tecnologia. Assim sendo, entre vários factores que diferenciarão estes profissionais, o uso de plataformas tecnológicas de forma eficaz e inovadora será essencial.

O seu grau de experiência e conhecimento através de formação será igualmente decisivo na fidelização de clientes. A sua capacidade de resumir todas as etapas de um negócio de forma célere será uma enorme vantagem. Esta última poderá ser maximizada através de soluções já desenvolvidas por proptechs, como a aquisição através de moeda virtual, ou centralização de dados e documentação dos activos numa plataforma.

Esta adaptação demora algum tempo se iniciada agora, mas um agente experiente e eficaz está obviamente assegurado desde que apoiado por um mediador que siga o mesmo mindset. Recordo o privilégio de ter reunido em 2006 com a presidente da John Daugherty em Houston, que me mostrou todo o edifício onde operavam, e sobretudo como operavam. Na altura já pensavam em criar super-agentes, dando todo o apoio para tal. Existia um processo lógico de seleção e potencialização dos melhores profissionais.

No primeiro andar existiam várias secretarias num open-space com cerca de 200 metros quadrados. Aqui estavam os “rookies”, novos agentes com pouca experiência a quem lhes era facultada formação, e condições de trabalho dignas. Após uma certa faturação e grau de satisfação dos clientes estes agentes eram promovidos ao segundo andar, onde tinham uma sala individual, assim como uma assistente para apoio à parte burocrática, tecnológica e follow up de clientes. Nesta fase os agentes continuavam com formação mais complexa e especializada, e dispunham já de uma carteira de clientes considerável, o que exponenciava a retenção de mais clientes através das recomendações. O terceiro e quarto andares eram utilizados por líderes de equipas e Direcção. Será este um modelo viável a adotar pelo mediador, de forma a valorizar o potencial dos seus agentes e dar apoio individualizado a quem tem melhores resultados? Julgo que se deveria seguir o exemplo de mercados mais maduros.

O caso do setor da construção

Na construção denota-se igualmente os efeitos desta nova era, existindo um investimento superior em zonas rurais, fora dos grandes centros urbanos. As técnicas e volumetrias das construções estão igualmente a ser adaptadas às novas exigências relacionadas com a segurança, higiene e bem estar dos consumidores. Desde o residencial ao comercial, os activos começam a ser criados com base noutra filosofia de vida, muito ligada à preservação da privacidade e garantindo segurança higiénica e também todas as comodidades que as novas tecnologias permitem obter, como comunicações (cada vez mais importantes num período de confinamento), eficiência energética e segurança.

Rhonda Wong, CEO e cofundadora da PropTech Ohmyhome em Singapura avisa, através de e-mail escrito à Crunchbase, “Acho que esta crise definitivamente serviu como um forte aviso para aqueles que relutam em entrar no mundo digital ou melhorar seus processos de gestão para permitir que os funcionários trabalhem em casa”, disse Wong. “Esperamos uma mentalidade aberta em relação à inovação e adoção de novas tecnologias”, afirmação com a qual concordo e que se demonstra já válida pela quantidade de empresas e trabalhadores que trabalham agora a partir de casa ou espaços de Cowork que ofereçam todas as condições de segurança.

Estas alterações nas várias especialidades do imobiliário e noutras levam-me a crer que de facto 2020 é o ano da mutação da indústria imobiliária em termos de mentalidades e processos de trabalho. As estratégias e objetivos alteraram-se e prosperará quem tiver a melhor capacidade e condições de adaptação, incluindo a incontornável adaptação à tecnologia.

Jorge Próspero dos Santos
Fonte: Out Of The Box pt
J

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