A crise econômica está afetando um dos maiores mercados do Brasil, o imobiliário. O setor, que responde por cerca de dez por cento da economia nacional, vem registrando perdas inéditas. O Índice FipeZap, indicador com abrangência nacional, acumula neste ano alta de 1,50%, enquanto a inflação no mesmo período registrada pelo IPCA foi de 7,10%.
Para os economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) que trabalham com o índice de preços dos imóveis, há projeção de que os preços continuarão a caminhar abaixo da inflação nos próximos meses. A previsão para o final de 2015 é que a variação nominal dos preços seja de 1%. Para junho de 2016, é projetada a persistência da queda de preços, e o índice pode ficar no terreno negativo.
As previsões são justificadas pela queda no crescimento do crédito imobiliário, pelo volume de imóveis novos ofertados, que ainda não mostrou sinais de retração, pela diminuição da massa salarial e pelos juros reais, em alta.
Outro fator que indica que os preços devem continuar caindo é que a desaceleração na concessão de novos financiamentos ainda não é refletida inteiramente no preço médio dos imóveis. Com isso, os preços, em termos reais, devem voltar para níveis de 2011 ao final do ano que vem.
Segundo Raone Costa, economista da Fipe, a mudança no movimento dos preços foi majoritariamente econômica, embora a crise política produza efeitos indiretos. “Como a oferta do setor reage com defasagem, quando a demanda vira, o único jeito de ajuste é modificar o preço”, disse. “Dado o quadro de recessão, é um fenômeno natural para mercado imobiliário, que depende principalmente da renda e do crédito disponível”.
Luiz Gustavo Pereira, analista da Guide Investimentos, também vê a permanência do movimento de baixa. “O ajuste ainda está em curso. A previsão é que os preços continuem a recuar, ainda não há um piso visível”.
Oportunidade para negociar aluguéis
De acordo com Pereira, este cenário favorece bastante a quem procura imóvel, principalmente para alugar, com mais chances de conseguir melhores preços. “Para não arcar com os custos, o locador cede em descontos”, disse. Para ele, a “estabilização dos preços deve ocorrer em dois anos”.
Além dos dados sobre o mercado de trabalho, que apontam para queda do emprego e do poder aquisitivo da população, a trajetória de queda também é reforçada pela deterioração das condições de crédito. A perda de confiança nos agentes econômicos decorrente da instabilidade política é outro fator de diminuição dos preços.
Por outro lado, representantes do mercado imobiliário estão mais otimistas em relação à recuperação dos preços. Laudimiro Cavalcanti, diretor do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Rio de Janeiro (Creci-RJ), afirma que “esse movimento está chamando a atenção porque no Brasil o imóvel sempre foi um porto-seguro”. Para ele, “o setor deve se recuperar nos próximos dois meses”.
Marcelo Borges, diretor-jurídico da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi), afirma que o setor já esperava pela diminuição. “Já era previsto esse movimento, agora evidente pelo número de imóveis vazios. O mercado imobiliário teve uma adequação proporcional ao cenário de retração econômica acentuada do país”. Segundo Borges, a retração dos preços “não deve passar de 30%, sem quedas bruscas”.
O processo de diminuição dos preços reverte a tendência dos últimos dois anos, quando aumentos salariais, valorização cambial e baixos custos de empréstimo levaram a um aumento da demanda. Em algumas capitais do país - como Rio de Janeiro e São Paulo – o preço dos imóveis chegou a dobrar. O ciclo de expansão dos preços teve fim com o início do ano de 2015.
A depreciação faz com que os preços hoje estejam no mesmo patamar dos preços de 2013, levando em conta a inflação.
Fonte: Jornal do Brasil
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