“The Economist” discute no artigo - “A ‘maldição do arranha-céu’ existe?” - A “tese de que há uma correlação entre a construção de edifícios mais altos e a eclosão de crises econômicas”. A revista britânica diz que, em 2014, “quase 100 edifícios com mais de 200 metros fora construídos — um recorde histórico”. A Arábia Saudita, potência petrolífera, está construindo a Torre do Reino, “que ocupará o topo do pódio mundial”. A publicação pergunta: “Seria essa mania de altura um mau agouro para a economia mundial?” A discussão é ampla e não consensual
Andrew Lawrence, quando estava no banco de investimentos Desdner Kleinwort Benson, formulou a teoria da “maldição do arranha-céu”, em 1999. Ele notou “a existência de uma curiosa correlação entre a construção dos mais altos edifícios do planeta e a eclosão de crises econômicas. A inauguração do Singer Building e da Metropolitan Life Tower, em nova York, em 1908 e 1909, respectivamente, coincide com o pânico financeiro de 1907 e com a recessão observada nos anos seguintes. O Empire State abriu suas portas em 1931, quando a Grande Depressão corria solta. As Torres Petronas, na Malásia, assumiram o posto de prédio mais alto mundo em 1996, pouco antes de ter início a crise financeira asiática. O Burj Khalifa, atualmente o mais alto do mundo, foi inaugurado em Dubai em 2010, quando um crash financeiro sacudiu a economia local e mundial”.
Num estudo anterior, de 1930, o economista William Clark e o arquiteto John Kingston concluíram que “a altura ótima para a maximização dos lucros gerados por um arranha-céu construído em Midtown Manhattan, m 1920, era de apenas 63 andares”. “Economist” postula que “a altura ideal não deve ser muito diferente hoje”.
A revista sugere que, se a tese estiver certa (adiante, apresenta-se uma nuance), “a construção de arranha-céus cada vez mais altos poderia ser vista como uma indicação de que investidores cegados pela euforia estão superestimando os retornos futuros de suas obras. A bem da verdade, não é de todo impossível que eles estejam construindo torres altíssimas mesmo sabendo que são economicamente ineficientes”.
“Economist” relata que, em 1998, o empresário Donald Trump propôs a construção, em Nova York, do “edifício residencial mais alto do mundo”. O “argumento” do multimilionário: “Sempre achei que Nova York deveria ter o prédio mais alto do mundo”. A revista ressalva: “Quando projetos como esse, movidos a pura vaidade, conseguem atrair investidores, é provável, dizem os defensores da tese da maldição do arranha-céu, que os mercados financeiros estejam desgovernados e a caminho de uma forte correção. Quando o prédio de Trump foi inaugurado, estourou a bolha da internet”.
O ramo da construção civil, na visão dos analistas históricos, “tem propensão a acessos de irracionalidade”. Mas três acadêmicos da Rutgers University, Jason Barr, Bruce Mizrach e Kusum Mundra, apresentam outra linha de raciocínio. Num estudo, o trio busca conectar 14 arranha-céus ao crescimento do PIB americano. “A distância em meses entre o anúncio da construção das torres e o pico do ciclo econômico varia muito (de zero a 45 meses). E apenas sete dos 14 arranha-céus foram inaugurados durante uma fase de desaceleração do ciclo econômico. Em outras palavras, nem o anúncio da construção do edifício mais alto do mundo, nem a conclusão de suas obras servem como indicadores da proximidade de uma recessão.”
Trata-se, pois, de uma contestação da tese inicial, a exposta por Andrew Lawrence.
“Economist” admite que a mostra de Barr, Mizrach e Mundra, apontando apenas 14 arranha-céus, é reduzida e, por isso, “é perigoso tirar conclusões categóricas”. Porém, depois, os autores “ampliam sua amostragem para 311 edifícios, considerando a torre mais alta construída a cada ano em quatro países (Estados Unidos, Canadá, China e Hong Kong).
Comparam então a altura dos prédios com o PIB per capita, e o resultado a que chegam é que em todo os países essas duas medidas são ‘cointegradas’, uma maneira criativa de dizer que caminham juntas. Em outras palavras, as incorporadoras tendem a maximizar seus lucros, reagindo com racionalidade ao aumento da renda dos indivíduos (e, portanto, ao crescimento na demanda por salas comerciais) ao construir edifícios mais altos”.
Portanto, “ainda que a egolatria e a insolência acometam o mercado de arranha-céus, argumentam os autores, seus alicerces parecem sólidos”.
O artigo da “The Economist” foi publicado no Brasil pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, com tradução de Alexandre Hubner.
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