João Teodoro da Silva
Com deficit habitacional estimado, à época, em 11 milhões de unidades, lançamentos em abundância, dinheiro farto, recursos disponíveis também para a aquisição de imóveis usados e clientes ávidos por conquistar uma propriedade os preços subiram em escala geométrica. O valor médio do metro quadrado elevou o Brasil a patamar de primeiro mundo frente ao mercado imobiliário internacional.
A aceleração dos valores chegou a gerar especulações sobre possível bolha imobiliária nos trópicos, em equivocado paralelo com o mercado norte-americano. Os boatos passaram, mas as condições começam a mudar. Em decorrência de outros fatores, as alterações mexeram com temperatura do setor.
Um dos indicadores que se tornou consenso, os preços dos imóveis no Brasil atingiram o teto e não há mais espaço para aumentos. A estabilização de valores que vimos assistindo desde o fim de 2013 deve persistir, fazendo com que possíveis correções acompanhem os avanços inflacionários. Quem aumentar preço para comercialização ou locação poderá ver o produto na prateleira por um longo período. Tampouco há indicadores de que haverá queda nos preços.
Enquanto muitos atribuem os valores alcançados no Brasil à mera especulação, há uma outra interpretação cabível, com base em dados históricos. O segmento imobiliário brasileiro estava estagnado há anos, desde a extinção do BNH (Banco Nacional de Habitação). As iniciativas isoladas de investimento e de construção da casa própria foram sufocadas pelo confisco do dinheiro no Plano Collor. A falta de segurança jurídica para a aquisição de imóveis diretamente com os construtores também afastou o cliente.
O cenário, em 2015, indica que o setor imobiliário deverá se concentrar na comercialização das propriedades que estão prontas. Os lançamentos serão poucos, escassos e pontuais. Para apimentar ainda mais esse cenário, vieram as medidas econômicas recém-anunciadas. A Caixa Econômica Federal elevou os juros para financiamento imobiliário. O governo federal aumentou os custos dos empréstimos bancários, entre eles os destinados à compra de imóveis.
As novas medidas devem chamar a atenção de todo o setor imobiliário, da cadeia produtiva e, principalmente, do consumidor. Quem for pleitear financiamento, mais do que nunca, deve comparar condições e custos do valoroso produto chamado dinheiro. Opções, como consórcio imobiliário, poderão retomar o espaço que tiveram anteriormente. E a criatividade de quem tem o que ofertar deve entrar em cena. Os ingredientes de que dispomos, no momento, disparam sinal de alerta. Mas a história ressalta: as crises geram muitas sequelas, mas também muitas oportunidades.
João Teodoro da Silva - Presidente do Sistema Cofeci-Creci
Fonte: Correio Braziliense
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