sexta-feira, 4 de novembro de 2011

RETRATO A "PRETO E BRANCO" DO SETOR IMOBILIÁRIO EM PORTUGAL

Todos os dias cerca de 100 pessoas ficam desempregadas e fecha uma empresa do sector da construção civil e do imobiliário em Portugal. O cenário é traçado pelo presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP).

Luís Lima

Luís Lima pinta “um retrato a preto e branco” do setor imobiliário no país, que está a ser fortemente atingido pela crise. O responsável alerta para a necessidade de “medidas concretas” que conduzam a uma renovação do setor. Apesar das dificuldades crescentes de acesso ao crédito, Luís Lima acredita que ainda é mais vantajoso comprar do que arrendar.

Qual é o retrato atual do setor imobiliário em Portugal?

Posso dizer que é um retrato a preto e branco. O sector imobiliário encontra-se num período bastante negro. Todos os dias são colocadas cerca de 100 pessoas no desemprego e fecha uma empresa do setor da construção e do imobiliário.

É uma obrigação que consigamos perceber o imobiliário como um investimento seguro e um património que é do interesse de todos preservar. Para isso, é urgente que sejam tomadas medidas concretas que possam alavancar esta fileira, e torná-la de novo numa mais-valia para o país.

Com a crise, aumentou a procura de imóveis para arrendar. Quais são as principais limitações do mercado de arrendamento no país?

A principal limitação prende-se com a falta de confiança dos proprietários e dos investidores no mercado de arrendamento. Ninguém quer colocar um imóvel neste mercado, havendo a hipótese de ter que arrastar casos de incumprimento de contrato de arrendamento durante largos meses ou até anos nos tribunais. A par disto, existe também a tributação excessiva que é hoje feita sobre os rendimentos obtidos no arrendamento.

Nos últimos tempos houve de facto uma procura brutal por este mercado, mas que não está a ser acompanhada pela oferta. Para tal acontecer, seria necessário colocar no mercado cerca de 60 a 70 mil imóveis para o arrendamento residencial. Mas tal só acontecerá se proprietários e investidores puderem garantir um investimento seguro e com retorno.

No contexto atual, compensa mais comprar ou arrendar?

Apesar de a atual conjuntura económica ser mais convidativa ao mercado de arrendamento devido à dificuldade no acesso ao crédito à habitação, à instabilidade do mercado laboral e ao endividamento das famílias, é ainda mais compensatório comprar casa.

Apesar de a atual conjuntura económica ser mais convidativa ao mercado de arrendamento, é ainda mais compensatório comprar casa.

Existe um desafio que se encontra por superar, que diz respeito à necessária convergência das rendas praticadas com as expectativas de preços expressas por quem recorrer ao mercado de arrendamento, uma vez que o valor médio das rendas praticadas se situa hoje a mais de 100 por cento acima do valor médio da prestação inerente aos novos contratos de crédito à habitação. Uma realidade que evidencia o desequilíbrio do mercado, pois a situação seria tendencialmente inversa e com valores substancialmente mais próximos.

O que espera da nova lei do arrendamento?

O que eu espero é que sejam tomadas medidas concretas que possam dinamizar este mercado e consequentemente o mercado da reabilitação urbana, e isso só poderá acontecer com a aplicação de medidas tais como a agilização dos processos de despejo por incumprimento do contrato de arrendamento, e através da aplicação de uma taxa liberatória sobre os rendimentos deste mercado, que seja pelo menos igual àquela que hoje é aplicada nos depósitos a prazo.

O que é preciso para ultrapassar a crise no setor?

Mais do que nunca, o crescimento económico do país passa pela recuperação do setor da construção, através da requalificação dos centros urbanos e dinamização do mercado de arrendamento urbano, sem o qual a reabilitação será meramente uma miragem. Só desta forma haverá francos reflexos na economia, no crescimento do PIB e na criação de postos de trabalho.

Quais as soluções que poderiam já estar em curso mais ainda não estão e por quê?

Seria mais urgente avançar com uma proposta mais concreta no que diz respeito ao mercado de arrendamento urbano.

Existe um pacote de propostas apresentado pelo anterior Governo que devido à sua demissão não chegou a ser aprovado, e que contempla quase todas as medidas desejáveis para relançar o setor no mercado. A meu ver, este programa deveria ser reaproveitado pelo atual Governo.

Apesar de terem sido já tomadas algumas decisões no que diz respeito ao mercado da reabilitação urbana, elas ainda são insuficientes e seria mais urgente avançar com uma proposta mais concreta no que diz respeito ao mercado de arrendamento urbano, pois sem este será impossível dinamizar o mercado da reabilitação.

Apesar de existir uma agenda imposta pela Troika que diz que até ao final do ano serão tomadas medidas sobre o arrendamento urbano, esta agenda deve ser antecipada pelo Governo que tem que encarar a sobrevivência do setor da construção e do imobiliário como algo prioritário, independente do calendário proposto, até porque deste sector depende a sobrevivência de muitas empresas e famílias.

Quais as perspectivas para 2012?

A minha perspectiva optimista é que este seja o verdadeiro ano da reabilitação urbana e do arrendamento urbano. Só assim se conseguirá evitar o colapso do setor da construção e do imobiliário, que está já perto de atingir os limites de sustentabilidade. Como tal, a aposta nestes mercados só poderá ser feita com as medidas referidas, pois não há investimento sem retornos previsíveis.

Fonte: SapoPT-Notícias

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