Os negócios imobiliários na Argentina praticamente paralisaram desde que o governo impôs limites rígidos sobre a possibilidade de as pessoas adquirirem dólares, há duas semanas, dizem executivos do setor.
Embora o mercado seja pequeno, alguns temem que se o problema continuar, isso poderia afetar o setor de construção em geral e ter um impacto mais amplo sobre o crescimento econômico.
Na maioria dos países, o mercado de câmbio tem pouco a ver com o imobiliário, mas as propriedades argentinas são negociadas em dólar. Pessoas e empresas precisam da moeda americana para comprar apartamentos, casas e imóveis comerciais.
O governo, numa medida inesperada, tornou muito mais difícil obter dólares em 31 de outubro, impondo limites severos para a compra da moeda, e isso chacoalhou os negócios imobiliários.
"O mercado está estagnado", disse Luis Ramos, presidente da LJ Ramos, uma das maiores empresas imobiliárias da Argentina. "As únicas pessoas que podem obter dólares são as que já têm a moeda em cofres ou embaixo do colchão."
Ramos disse que o controle cambial assustou as pessoas a as levou a tirarem propriedades do mercado ou adiar compras.
Os controles atingiram um ponto delicado porque os argentinos têm uma afinidade extraordinária com o dólar. Depois de passarem por décadas de crises econômicas, desvalorizações de moeda e hiperinflação, os argentinos veem o dólar como um investimento seguro.
Depois, imóveis vêm em segundo lugar na percepção de investimento seguro. E eles têm sido uma boa aposta. Seu valor raramente cai.
Mas a impossibilidade de comprar dólares tem causado muita incerteza e pode mudar as coisas, disseram pessoas do setor.
"Os controles cambiais e outras mudanças inesperadas na política vão levar as pessoas que têm dinheiro a investir em países vizinhos ou nos EUA", disse Ramos.
A lista de clientes de Ramos inclui grandes multinacionais como 3M Co., Carrefour SA, Nike Inc. e Unilever PLC.
"Muitas empresas estrangeiras não estão fazendo nada agora porque estão esperando para ver como as coisas se resolvem", disse ele.
O mesmo vale para investidores menores, segundo vários corretores de imóveis.
"As pessoas não sabem o que vai acontecer no mercado. Isso vai reduzir o número de transações e nós podemos ter menos investimento de incorporadores em novos projetos", disse German Picasso, analista do site "Reporte Inmobiliario" .
"Quem tem dólares acha que se esperar, vai conseguir mais com seu dinheiro ou acabar comprando a mesma propriedade por menos", disse ele.
Vai levar dois ou três meses até que números confirmem como o total e o valor das transações têm sido afetados, acrescentou.
Os únicos negócios que estão acontecendo agora são os que foram assinados antes dos controles cambiais, dizem corretores.
Outros dizem que a atividade vai acabar voltando.
"As pessoas estão correndo para converter novos contratos em pesos porque ninguém sabe quanto o dólar vai custar", disse um gerente de compras de uma grande firma estrangeira. Ele pediu para não ser identificado devido a políticas da empresa.
"É o tipo de coisa que só acontece na Argentina", disse o gerente, que supervisiona grandes aquisições imobiliárias em toda a América Latina.
Ao dificultar a obtenção de dólares, o governo gerou temores de que a moeda da Argentina, o peso, vá perder valor, tornando imperativo que se adquira dólares agora.
Por TAOS TURNER de Buenos Aires
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