O número de imóveis leiloados cresceu 61% em 12 meses (de junho de 2017 ao mesmo mês deste ano), segundo levantamento da Zukerman Leilões – empresa especializada na realização de leilões de imóveis de origem judicial e extrajudicial. São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro são os Estados onde eles mais ocorreram. Para o professor de economia do Ibmec/ MG, Felipe Leroy, o número não surpreende tendo em vista o atual cenário econômico do país. “As pessoas não estão conseguindo manter em dia as parcelas do financiamento imobiliário”, observou. Segundo ele, a partir do atraso da terceira parcela, o mutuário pode perder o bem.
Conforme o estudo, no ano passado, 7.532 imóveis no país foram parar nos leilões, número superior ao de 2016, quando foram 4.980 unidades.
Conforme o estudo, no ano passado, 7.532 imóveis no país foram parar nos leilões, número superior ao de 2016, quando foram 4.980 unidades.
No entanto, adquirir um imóvel no leilão não é garantia de que o comprador possa se mudar rapidamente, observa o presidente da Associação dos Mutuários e Moradores de Minas Gerais (AMMMG), Silvio Saldanha. “É que a maior parte deles está ocupada, algo em torno de 90% do total que é leiloado”, observa.
De fato, os imóveis ocupados ainda são a maior parte das ofertas, com 82%, segundo o levantamento da Zukerman, contra 18% dos desocupados. Sendo que o índice de desocupados é maior do que o registrado na pesquisa anterior, quando as casas e apartamentos sem moradores correspondiam a 10% da amostra.
Saldanha observa que o responsável pela desocupação do imóvel arrematado no leilão é o comprador. “Cada caso é um caso. É possível que o morador saia rápido ou a questão vá parar na Justiça”, frisa.
Além da responsabilidade na retirada dos moradores da unidade habitacional, o especialista no setor imobiliário salienta que existe o inconveniente de não conhecer o imóvel antes do leilão. “Dessa forma, não é possível saber o estado de conservação da unidade. Logo, acaba sendo um investimento no escuro que, dependendo do caso, pode compensar, já que há casos de imóveis que são adquiridos até 80% mais baratos do que os preços do mercado”, diz. Ele conta que já viu um caso de um imóvel no valor de R$ 1 milhão que chegou a ser arrematado por R$ 200 mil.
Procurada pela reportagem, a Caixa, que detém a maior fatia do financiamento imobiliário no país, informou, por meio de nota, que realizou 532 licitações no acumulado dos sete primeiros meses deste ano. A comparação com igual intervalo do ano anterior, conforme a instituição financeira, não pode ser feita por causa de restrições do sistema.
Só no primeiro trimestre deste ano, a Caixa tomou de volta 1.089 imóveis em Minas Gerais por falta de pagamento, conforme levantamento da AMMMG. O número é 40,8% maior do que os 773 tomados no mesmo período de 2017.
Planejamento evita a inadimplência, afirma professor
Além da atividade econômica ainda fraca, a inadimplência do segmento imobiliário é estimulada pela falta de educação financeira, segundo o professor do Ibmec/MG, Felipe Leroy. “Há pessoas que ganham bem, mas ainda assim devem. Mais importante do que se ganha é saber administrar o que se gasta”, ressalta.
Ele observa que a maior parte das pessoas analisa apenas o valor das parcelas do financiamento. “Se cabe no orçamento, naquele momento, a pessoa decide comprar o imóvel. Só que como é um financiamento de longo prazo, tudo pode mudar, pois a economia é feita de ciclos, imprevistos acontecem. Hoje, o casal tem emprego, só que um deles ou até mesmo os dois pode ficar desempregado. Daí a importância de ter um planejamento financeiro”, salienta.
O economista aconselha cautela na hora de fazer um financiamento imobiliário. “O imóvel é considerado um sonho para a maioria das pessoas. Só que a decisão de compra não deve ser pautada pela empolgação”, diz.
Sempre que possível, ele aconselha que a entrada possa ser a maior possível e o tempo de financiamento, o menor. Outra dica é escolher um imóvel, num primeiro momento, menor, com o valor mais condizente com a realidade do comprador. “Um passo de cada vez para evitar dores de cabeça no futuro, como a perda do imóvel que, por causa da inadimplência pode acabar indo parar num leilão. Assim, o mutuário fica sem o imóvel e perde praticamente tudo o que pagou”, analisa.
Banco do Brasil vendeu 800
O Banco do Brasil (BB) leiloou 800 imóveis no primeiro semestre deste ano, o que representou alta de 56,25% frente a igual período do ano passado, quando 512 imóveis no país foram vendidos nessa modalidade.
O BB tem carteira imobiliária superior a R$ 50 bilhões. Conforme a instituição, das operações que entram em inadimplência, 97% são regularizadas pelos próprios mutuários em até 180 dias. “O banco direciona suas ações prioritariamente para a regularização da dívida pelo próprio mutuário, evitando a retomada do imóvel”, diz o BB, em nota.
Fonte: O Tempo
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