A retirada líquida de R$ 9,3 bilhões das cadernetas de poupança nos dois primeiros meses do ano acendeu uma luz de alerta no crédito imobiliário.
A sangria aumentou uma preocupação com a qual já se deparam alguns dos grandes bancos: a escassez de recursos para empréstimos habitacionais. Entre as instituições em que a falta do dinheiro da caderneta já se tornou uma realidade estão a Caixa Econômica Federal, principal banco da modalidade, e o Santander.
"O cenário de escassez de funding para o crédito imobiliário, de que tanto se falou nos últimos anos, começou a virar realidade", diz Teotônio Costa Resende, diretor-executivo de habitação da Caixa. O banco estatal já vem utilizando recursos captados de outras fontes, como a Letra de Crédito Imobiliário (LCI), para complementar os da poupança em suas operações de financiamento habitacional.
O problema é que essas captações têm custo significativamente maior que o da poupança para os bancos. Em especial num momento como o atual, em que a taxa básica de juros e a inflação estão subindo, exigindo que os bancos paguem um prêmio maior para atrair investidores. Além das LCI, os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) também são uma alternativa à captação de poupança - e futuramente a Letra Imobiliária Garantida (LIG), que ainda não foi regulamentada.
Segundo o Valor apurou, Caixa, Santander e Banco do Brasil são os bancos em que a falta de poupança é mais aguda. Itaú e Bradesco estariam em uma situação mais confortável.
Para aliviar a situação no curto prazo, os bancos chegaram a pedir ao Banco Central que autorizasse a liberação da faixa de 10% dos depósitos compulsórios da poupança que a autoridade monetária retém e remunera pela Taxa Referencial (TR). Preocupado com os efeitos inflacionários da medida, o BC resiste à proposta, afirmam fontes ouvidas pelo Valor.
Os saques na poupança decorrem principalmente do endividamento das famílias. Nos últimos três meses, a renda da caderneta perdeu para a inflação. No acumulado de dezembro a fevereiro, a perda real alcança mais de 1,5 ponto percentual, ou seja, praticamente o rendimento de três meses.
Fonte: Valor Econômico
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