“O lado negro da ascensão do Brasil” é o título de uma longa reportagem publicada nesta terça-feira, 13, pelo “Wall Street Journal, com destaque na primeira página. O texto afirma que a entrada de capital estrangeiro pode gerar uma bolha imobiliária no País.
A lógica é simples. Os investidores estrangeiros colocam seu dinheiro no Brasil e geram duas consequências negativas: primeiro, “a abundância de recursos na economia ajuda a financiar empréstimos imobiliários de risco mais alto e alimenta uma potencial bolha imobiliária”. Segundo, a entrada de recursos fortalece a moeda brasileira, prejudicando a indústria nacional.
Bolha imobiliária
O aumento dos empréstimos a uma taxa de juros ainda alta pode elevar a indaimplência, na opinião do jornal. A reportagem cita o exemplo de uma brasileira que havia tomado quatro linhas de crédito a uma taxa de 40% ao ano e depois teve que suspender o pagamento porque seu marido teve problema no rim e precisou parar de trabalhar.
Mas há visões diferentes a respeito. “Eu não vejo uma bolha. Fluxos de capital são uma consequência natural de todas as boas notícias no Brasil”, disse ao “Journal” Fabio Barbosa, ex-presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
Brasil caro
Tendo os bancos muito dinheiro para emprestar, as pessoas obtêm mais facilmente dinheiro para gastar, e os preços sobem. Não só os de imóveis, mas de vários bens e serviços, “do cinema à Coca-Cola”, ou “dos carros aos preservativos”, para usar os exemplos citados no “Journal”. Ainda, os salários também aumentam.
Os preços altos geram dificuldades para as empresas. A Embraer, por exemplo, disse ao “Wall Street Journal” que quer abrir mais fábricas no exterior.
Real forte, indústria fraca
Todo capital externo, ao chegar ao País, é trocado pela moeda brasileira, que, por causa disso, se fortalece. O fato de essa reportagem ter saído justamente no dia em que o real atingiu sua maior cotação no ano não a invalida. O jornal se refere a um movimento de longo prazo, de “mudança tectônica do investimento global rumo a países emergentes”. Desde 1º de janeiro, de 2010, por exemplo, o real subiu 36% ante o dólar.
A alta do real torna mais custosa a produção de mercadorias no Brasil, reduzindo a competitividade da indústria (em junho, houve retração de 1,6%). As fábricas brasileiras perdem espaço no mercado interno e externo. Neste ano, um quinto dos carros vendidos no Brasil é importado, segundo estimativa da associação do setor; em 2005, apenas 5% eram.
Além de os consumidores comprarem mais produtos importados e menos nacionais, existem as pessoas que saem do País para fazer compras. A reportagem lembra que os brasileiros já gastaram US$ 8,5 bilhões no exterior neste ano, 60% mais que um ano antes.
Juros altos
A valorização da moeda brasileira, na opinião do “Journal”, foi uma “questão chave” para explicar por que o Banco Central reduziu ataxa básica de juros em setembro, numa decisão que surpreendeu muitos analistas. Tal decisão gera risco de estimular mais a inflação, opina o diário.
Com a taxa de juros alta, investidores tomam dinheiro emprestado no exterior, pagando juros próximos a zero, e depois aplicam em títulos brasileiros. Isso gera mais entrada de capital, aumentando o valor do real.
No entanto, “o capital que inunda um país pode rapidamente fugir dele”. Países emergentes, com isso, temem que uma catástrofe econômica no mundo desenvolvido gere uma inversão da atual tendência, provocando forte saída de recursos rumo ao mundo desenvolvido.
Por que o Brasil
Outros veículos de comunicação internacionais já haviam publicado alertas sobre bolha no Brasil, como o “Financial Times” fez em junho e julho.
O texto do “Journal”, no entanto, vai mais longe ao mostrar que a situação brasileira é particular em comparação com outros países emergentes.
A China também tem problemas com a entrada de capital internacional, como a pressão sobre o preço dos alimentos. Mas muitos investidores preferem o Brasil porque tem câmbio flutuante e um mercado sofisticado de títulos e derivativos, diferentemente do país asiático.
Ainda, o Brasil é o maior exportador de minério de ferro, carne bovina, frango, açúcar e café, além de ter o potencial do petróleo na camada pré-sal a ser explorado.
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