Para o mercado imobiliário, o estudo da demografia tem uma importância tão relevante quanto a economia. Com menos incertezas e menos cíclica, a demografia tem um comportamento de longuíssimo prazo e menos sujeita a interferências, claro que com exceções, como epidemias, guerras e catástrofes naturais.
A relação entre o número de famílias e domicílios mostra se existe um déficit habitacional ou um superávit habitacional. Em países da Europa Ocidental, Estados Unidos, Canadá, entre outros com economia forte e estabilizada é usual as famílias, além de seus domicílios, terem casas de praia e casas de campo.
Entretanto, essa não é a realidade de países como o nosso, onde o déficit habitacional chega próximo de seis milhões de domicílios, composto por domicílios precários (favelas, cortiços), coabitação (mais de uma família vivendo no mesmo domicílio) e aluguel com ônus excessivo. Sendo que nos últimos anos tem aumentado a proporção do ultimo item. Concentrado nas regiões metropolitanas e, por óbvio, nas baixas rendas.
Para entendermos a necessidade habitacional futura é necessário avaliar, sim, o crescimento da população, mas fundamentalmente o comportamento das famílias combinados com o crescimento ou estagnação econômica.
O número de domicílios unipessoais tem crescido muito, nas últimas duas décadas, principalmente nas grandes cidades. A família tradicional de casal com filhos, embora seja ainda o maior número de domicílios, não é mais a maioria. Com mais de 1 milhão de casamentos, e aproximadamente 400 mil separações anuais, o formato de nossas famílias e residências tem se alterado.
Foi feito um estudo do cenário da demanda habitacional pelo Secovi/SP, em conjunto com a Fundação Getúlio Vargas, com o objetivo de mapear e quantificar a necessidade de novos domicílios em todo o país, por regiões, e com cenários de projeções econômicas e demográficas.
O número de domicílios no Brasil em 2014 era de 67 milhões. Considerando inúmeras variáveis e cenários, chegou-se a uma demanda habitacional de 14,5 milhões de novas habitações para os próximos 10 anos, além do déficit habitacional. Os dados mais detalhados podem ser vistos no anuário do mercado imobiliário que foi divulgado na última semana e está disponível no site: www.secovi.com.br.
A necessidade de moradia é realidade, podendo ser ou não atendida pelo mercado ou através de programas sociais públicos. Apenas com objetivo de prover um domicílio por família, seja através da produção de apartamentos, casas, terrenos ou imóveis locados, na verdade a solução habitacional passa por um conjunto e complemento de todas essas formas.
Cada região do país tem a sua necessidade habitacional distinta e com características próprias, mas todos temos problemas com a alta taxa de juros, excesso de burocracias e prazos para aprovações e licenciamentos de projetos habitacionais e, principalmente, a insegurança jurídica instalada em nosso território nacional.
Ao ofertar uma quantidade menor do que a necessidade de imóveis no mercado, os preços sobem e o acesso à moradia diminui. Se buscarmos celeridade aos processos, com vontade política e proteção jurídica aos funcionários públicos que tomam decisões com objetivos de incentivar investimentos, gerar empregos e moradias, talvez consigamos atender essa demanda habitacional nos próximos 10 anos.
Flavio Amary - Presidente do Sindicato da Habitação do Estado de São Paulo (Secovi-SP) e reitor da Universidade Secovi
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