quinta-feira, 20 de outubro de 2011

IMÓVEIS E O RISCO DA EUFORIA EXAGERADA


De janeiro a julho deste ano, a venda e os lançamentos de imóveis novos na cidade de São Paulo registraram, respectivamente, queda de quase 20% e de 14%, em relação a igual período de 2010.

Os números não devem impressionar. Até porque o desempenho do mercado imobiliário no ano passado foi extraordinário. O nível de comercialização situou-se muito acima do que se pode considerar como um ritmo saudável e sustentável. Portanto, a redução foi, digamos assim, providencial, para que não corrêssemos os riscos de uma euforia exagerada. Riscos que já se faziam perceber num movimento especulativo de particulares, inflacionando os preços de terrenos e, naturalmente, o preço médio do metro quadrado construído. Um movimento que acertaria de cheio os investidores animados pela possibilidade de uma alta continuada.

A diminuição vem devolver o bom senso que deve predominar no setor, até em razão do longo prazo que caracteriza sua operação. Mas isso não significa desaquecimento. Nada de achar que os preços vão desabar e que é bom esperar para comprar na “bacia das almas”.

O mercado imobiliário ainda vive o bom momento iniciado com a retomada do crescimento pós-crise de 2008 e o Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), medida anticíclica adotada pelo governo federal que deu impulso e dinamismo às atividades da área.

O segmento residencial é o grande responsável pelo forte crescimento experimentado nos últimos anos, após o susto da crise financeira internacional que abalou importantes países. Isso se tem refletido nos números do setor, que se converteu num dos mais fortes segmentos da economia nacional.

Todos reconhecem que a mola propulsora desse crescimento tem sido o crédito imobiliário. De janeiro a julho deste ano, o volume de financiamentos concedidos pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) atingiu um recorde de R$ 43,6 bilhões – um crescimento de 51% em comparação com os primeiros sete meses de 2010.

Se esses números recordes são expressivos, também são expressivas: a alta dos valores dos terrenos, que tem dificultado a viabilização de alguns empreendimentos; a alta dos custos da construção, que tem diminuído as margens dos negócios; e até a dificuldade de entrega dos projetos, em especial do MCMV, por causa de atrasos em obras e mesmo problemas em repasses de contratos da Caixa Econômica Federal.

Esse é o cenário a que assistimos, e com grande preocupação. Tais movimentos terminam por revelar os perigos inerentes a um mercado superaquecido e nos chamam à responsabilidade de conter a impetuosidade do mercado, em prol de um desenvolvimento mais continuado.

A responsabilidade é ainda maior ao considerarmos o atual ambiente da economia mundial, sacudida por outra crise, provavelmente ainda mais séria, posto que de países, e não de mercados.

Para o setor imobiliário, a conclusão é óbvia: não é possível imaginar que continuaremos nadando de braçadas num mar de tranquilidade. Pelo contrário. Temos ondas enormes chegando, e as correntezas são tantas que é impossível adivinhar para onde elas podem nos levar.

A globalização, que por um lado aproxima os países, deixa-os extremamente dependentes e, como um grande castelo de cartas, expõe todos a um risco permanente. Ao olharmos para os estragos causados nos mercados europeu e americano, devemos tomar lições dos abalos que foram sentidos naqueles países para não incorrer nos mesmos erros, até por interpretar indevidamente os sinais do setor imobiliário nacional.

O momento é muito bom e todos querem que assim continue. Por isso, não podemos deixar que a euforia nos tolde a visão. A diminuição ora verificada no comportamento do mercado de imóveis vem devolver o bom senso que o setor exige. Sabedoria é isto: observar, conhecer, pesquisar, interpretar e ajustar. Vamos seguir devagar e sempre. É o melhor a fazer.

Fonte: O Estado de S.Paulo

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