Impulsionada pela oferta maior de crédito e pelo programa Minha Casa Minha Vida, a indústria da construção civil se expandiu em ritmo chinês mesmo nos momentos mais agudos da crise mundial. É o que revela um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgado pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), na quinta-feira (5), em encontro realizado em São Paulo.
A taxa média real (descontada a inflação) foi de 8,2% ao ano entre 2008 e 2011, ano em que a cadeia produtiva do setor respondeu por 8,9% do Produto Interno Bruto (PIB). Levando-se em conta apenas o segmento de edificações e incorporação, a alta chegou aos dois dígitos (11,4% ao ano).
Depois dos ajustes dos últimos dois anos, em que o volume de lançamentos caiu, o setor discutiu o caminho do crescimento sustentável durante evento em São Paulo (SP).
Para o vice-presidente de Habitação da Caixa, José Urbano Duarte, um dos palestrantes, a expectativa é de retomada a partir do segundo semestre. Ele ressaltou o papel desempenhado pelo Minha Casa Minha Vida, que serviu de aprendizado para a indústria da construção e deve contratar 960 mil moradias este ano.“O mercado imobiliário é muito jovem no Brasil, começou de fato de seis anos para cá. O que contratávamos em financiamento na Caixa em um ano, fazemos em menos de um mês hoje”, disse ele.
Um ponto importante, afirmou Urbano, é oferecer imóveis que caibam no bolso dos consumidores. Segundo ele, 80% das famílias que pretendem comprar o primeiro imóvel têm renda média de R$ 4 mil. Pelas regras atuais, podem financiar imóveis de até R$ 150 mil. “Se tivermos um produto que cabe no bolso das famílias e dinheiro para financiar, iremos continuar crescendo em ritmo similar ao anterior, entre 10% e 15%, ao ano”, afirmou Urbano.
O crédito habitacional no Brasil ainda corresponde a apenas 8% do PIB e tem bastante espaço para crescer. “Se você analisar como as taxas de juros caíram e prazos de pagamento subiram, a família que financia estes R$ 150 mil hoje conseguiria R$ 80 mil há oito anos”, disse Urbano.
Outro gargalo para o crescimento no mercado imobiliário é o custo da burocracia desnecessária. Estudo da consultoria Booz&Co revela que uma série de atrasos referentes a licenças ambientais e cartórios, entre outros, eleva em 12% o valor final de um imóvel novo no país, o que equivale a R$ 19 bilhões por ano.
“É um efeito cascata, uma vez que você tem atrasos em todas as etapas da obra. No final, quem está pagando esta conta, inevitavelmente, é o comprador. Quando você pensa na classe D, por exemplo, esse custo extra pode tornar a renda insuficiente para conseguir um financiamento”, diz Nelson Gramacho, diretor da Booz&Co.
Rubens Menin, presidente da Abrainc, que representa 22 grandes empresas de atuação nacional, enxerga pilares que garantirão um crescimento sustentável no longo prazo: demanda, oferta de crédito e renda. Ele estima um mercado de 35 milhões de famílias a serem atendidas nos próximos 20 anos.
Hoje, o segmento constrói de 500 e 600 mil moradias por ano, menos do que o México (800 mil), por exemplo, que tem metade do tamanho brasileiro e situação econômica parecida.
“Desde 2004, nós da Abrainc investimos US$ 20 bilhões que vieram da emissão de papéis. Se o Brasil produz de 500 mil a 600 mil moradias por ano, é muito em função disso. Isso gerou um círculo virtuoso, que puxou as construtoras médias”, afirmou ele. Prova disso é que o segmento de edificações e incorporação criou 1,1 milhão de empregos diretos e indiretos e gerou uma renda de R$ 359,7 bilhões entre 2007 e 2011, segundo estudo da FGV.
Fonte: Caixa Econômica Federal
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